Elabora e valida o conteúdo da cartilha sobre o tratamento quimioterápico para crianças com câncer.
Na população infanto-juvenil, estimou-se que, em 2018, haveria a incidência de 12.500 casos de câncer, com destaque para os de células do sistema sanguíneas, tecidos do sistema nervoso e linfático. O tratamento deste agravo pode ser realizado por meio da quimioterapia, radioterapia e cirurgia, dependendo do tipo do câncer, localização e estágio em que se encontra.
As crianças passam por repetidas hospitalizações, necessárias para a realização do tratamento, e assim têm sua rotina diária modificada. Os períodos de hospitalização são permeados por experiências estressantes devido aos diversos procedimentos invasivos, potencialmente dolorosos, como a inserção de cateteres intravenosos utilizados na administração de medicamentos, quimioterápicos, soluções, nutrientes, derivados do sangue e também para a coleta de amostras sanguíneas.
A quimioterapia é o tipo de tratamento mais utilizado em crianças e sua administração pode resultar em diversos efeitos colaterais, a exemplo da alopecia, apatia, anorexia, mucosite, náusea, vômitos, diarreia, fadiga, neutropenia, sangramentos e hematomas. Entre as adversidades do tratamento quimioterápico a criança também está vulnerável a ocorrência de infiltrações e de extravasamentos de medicamentos ou soluções infundidas. Esses eventos adversos ocasionam dor, queimação ao longo do acesso venoso periférico, lesões de pele no local e provavelmente, novas intervenções terapêuticas.
Assim, a criança deveria receber informações claras e adequadas a seu nível de desenvolvimento sobre a quimioterapia, no início da terapêutica, destacando sua ação, eventos adversos, efeitos colaterais e as estratégias necessárias que podem minimizar as adversidades e sequelas desse momento do tratamento.
Entretanto, dados de pesquisa qualitativa nacional demonstrou que os profissionais de saúde fornecem orientações sobre a quimioterapia direcionando-as para os pais e poucos orientam as crianças. Estes profissionais reconheceram que as crianças são capazes de compreender as orientações fornecidas, porém encontram dificuldades em se comunicar em linguagem acessível.
Assim, esclarecer dúvidas e fornecer informações sobre o quadro clínico e tratamento podem amenizar as sequelas decorrentes da hospitalização, deixando a criança mais segura, menos ansiosa, mais tranquila e consciente dos momentos que irá passar durante o tratamento. Tais informações são valorizadas pelas crianças, que ressaltam a importância da utilização de recursos lúdicos, como a brincadeira antes dos procedimentos invasivos e dolorosos.
Desde modo, faz-se necessário utilizar estratégias que possam preparar a criança e seus familiares para o uso da quimioterapia, a exemplo das atividades lúdicas, tais como desenhos animados, equipamentos eletrônicos (smartphones, tablets, computadores), cartões de distração, tecnologia de realidade virtual e fornecimento de informações sobre a doença e a quimioterapia, por meio de materiais educativos, como folhetos, manuais e cartilhas.
Tais tecnologias de distração, por crianças durante a realização de procedimentos invasivos diminui o nível de angústia, ansiedade, dor, estresse, menos esforços para contenção mecânica, melhoria na qualidade de sono, além de auxiliar na compreensão da criança sobre a doença e a quimioterapia. O uso de videogames como estratégias de empoderamento de crianças com câncer, conforme revisão de literatura, demonstrou possuir efeitos positivos nas emoções cognitivas destes indivíduos.
No entanto, a incorporação dos recursos tecnológicos e de realidade virtual supramencionados no cuidado da criança com câncer no Brasil pode ser dificultado por diversos fatores tais como disponibilidade de tecnologias como tabletes, notebooks, internet, condições clínicas e ausência de familiaridade da criança, mesmo com todos os benefícios já observados pelas pesquisas.
Neste sentido, o uso de materiais impressos deve ser estimulado por possuir baixo custo, ser de fácil acesso aos seus usuários, proporciona informações adequadas e podem ser lidos em qualquer momento da hospitalização da criança, conforme sua necessidade por informação e motivação.
No entanto, é incipiente a produção e publicação de tecnologias didáticas destinadas a criança em tratamento quimioterápico, que permita conhecimento e compreensão desse momento singular. Também, a literatura aponta a necessidade de validação de conteúdo de instrumentos após o processo de construção. Isto posto, questionou-se: “Quais informações podem compor uma cartilha para orientar crianças com câncer durante a quimioterapia?” e “Esta cartilha apresenta validade de conteúdo?” Assim, o objetivo deste estudo foi elaborar e validar o conteúdo da cartilha sobre o tratamento quimioterápico para crianças com câncer