Cultura de Segurança do Doente na Prática Clínica dos Enfermeiros

4 de setembro de 2024 por filipesoaresImprimir Imprimir

Avalia as caraterísticas psicométricas de um hospital, caracteriza a cultura de segurança do doente e avalia a influência das variáveis sociodemográficas e profissionais nas dimensões da cultura de segurança.


A segurança do doente continua a ser um dos grandes desafios para as organizações de saúde do séc. XXI, cuja principal missão consiste na prestação de cuidados com elevada qualidade. Assume-se que a prestação de cuidados é uma atividade de risco pela sua complexidade, contexto e recursos disponíveis, envolvendo a possibilidade de ocorrência de acontecimentos incertos e indesejáveis. Alguns estudos mostram que, em média, 1 em cada 10 doentes está sujeito a um evento adverso enquanto recebe cuidados hospitalares. O plano nacional de segurança do doente 2021-2026 em Portugal, veio reforçar a importância da promoção da segurança do doente num esforço coordenado e persistente de todos os gestores, lideranças intermédias e profissionais de saúde, para melhorar a conscientização pública sobre os tópicos de segurança do doente. É fundamental analisar os problemas reais relacionados com as práticas seguras nos ambientes de cuidados e o Hospital Survey on Patient Safety Culture (HSOPSC), desenvolvido pela Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ), permite efetuar a avaliação da cultura de segurança, efetuando a mensuração de múltiplas dimensões relacionadas com valores, crenças, normas da organização, notificação de eventos adversos, comunicação, liderança e gestão. A avaliação da cultura de segurança permite diagnosticar a cultura de segurança, identificar áreas de melhoria, acompanhar a evolução da cultura de segurança ao longo do tempo, além de possibilitar o benchmarking interno e externo para melhorar a qualidade da assistência em saúde e implementar processos de mudança.

Qualidade em segurança do paciente

Promover a segurança do paciente não é uma missão competitiva para um só sistema de saúde, mas um esforço colaborativo no qual todos os sistemas devem participar e essa colaboração considera a comparação da cultura de segurança entre países. O HSOPSC Comparative Database, é o único repositório central para permitir a comparação de dados no que respeita à avaliação da cultura de segurança do doente. Uma avaliação rotineira da cultura de segurança com divulgação e disseminação dos resultados ao nível da instituição, um planeamento de ações de melhoria com o apoio da liderança e gestores, programas multifacetados e formação foram intervenções que permitiram a seis hospitais, melhorar os seus níveis de cultura de segurança.

Durante estes últimos anos, assistimos a mudanças a nível organizacional e a nível das práticas dos enfermeiros portugueses, mas ainda não estamos no nível desejado de cultura de segurança. Se verificarmos os dados da avaliação da cultura de segurança a nível nacional decorrida em 2018, constatamos que existem dimensões que continuam a necessitar de intervenção urgente, concretamente a frequência da notificação de eventos, dotação de profissionais e resposta ao erro não punitiva. Se nos reportarmos à avaliação dos aspetos relacionados com o Plano Nacional Português de Segurança do Doente até 2020, apuramos que existem falhas de comunicação entre as diversas estruturas/departamentos das instituições de saúde, falta de envolvimento dos profissionais, especialistas e doentes nas ações de segurança do paciente, falta de proximidade e interação entre direção, serviços e profissionais da saúde, ausência de legislação que forneça confidencialidade e proteção aos profissionais envolvidos na notificação de um evento adverso.

A mudança de cultura no sistema de saúde depende, em grande parte, do envolvimento e participação dos diferentes colaboradores, mas particularmente dos enfermeiros que são o grupo profissional que mais interação estabelece com os doentes devido à sua prática de cuidados ininterruptos. Nesta prestação de cuidados de saúde, as caraterísticas individuais e /ou sociais dos intervenientes são determinantes para a cultura de segurança, sabendo que ao longo do tempo os profissionais adquirem cultura através da sua participação e convivência no ambiente organizacional. Em alguns estudos, a idade, o sexo, a experiência de trabalho e o nível educacional foram preditores significativos das perceções dos enfermeiros acerca da cultura de segurança do doente.

É fundamental que mais estudos avaliem a cultura de segurança do doente do ponto de vista dos enfermeiros, para que com mais presteza sejam identificados os problemas atuais de segurança do doente nas instituições de saúde.

Desenvolver uma cultura de segurança constitui um trabalho árduo que não ocorre automaticamente, é um desafio nomeadamente em grandes hospitais, como é o caso do hospital em apreço. É essencial criar equipas de trabalho organizadas, resilientes, com forte poder comunicativo e com capacidade de manter ações, que respondam e se adaptam à pressão dos diferentes riscos clínicos intrínsecos às atividades de prestação de cuidados de saúde. Este estudo teve como objetivos avaliar as caraterísticas psicométricas do HSOPSC, caracterizar a cultura de segurança do doente e avaliar a influência das variáveis sociodemográficas e profissionais nas dimensões da cultura de segurança.

Compartilhar