Autopreconceito e Preconceito Social no Quotidiano de Pessoas Com Lesão Medular e Suas Famílias

15 de agosto de 2023 por filipesoaresImprimir Imprimir

Compreende a vivência do autopreconceito e do preconceito social no cotidiano de pessoas com lesão medular e de suas famílias.


Conviver com a lesão medular (LM), requer mudanças, lutas e mobilização para criar caminhos e ações que fortaleçam o enfrentamento dessa condição no dia a dia, com a ressignificação das atividades quotidianas e buscar potências que vem de dentro da pessoa para encaminhar a vida, nessa nova condição.

Autopreconceito e Preconceito Social no Quotidiano de Pessoas Com Lesão Medular e Suas Famílias

A LM causa deficiências físicas devastadoras que pode levar a problemas de saúde secundários, limitações de atividade da vida diária e restrições de participação na sociedade que impactam negativamente na qualidade de vida, exigindo adaptação emocional, financeira e física. Portanto, a reabilitação de pessoas com LM precisa incluir a recuperação/ gestão e reintegração na comunidade, incluindo os aspectos sociais e ocupacionais da vida, que influenciam positivamente na autoconfiança dessas pessoas.

Lesão Medular

A LM é uma experiência de mudança de vida para os indivíduos que a vivenciam, bem como para suas famílias. O enfrentamento do quotidiano modificado transita, também, pelo convívio com o autopreconceito e com o preconceito social, advindas das mudanças na percepção corporal, expressa pela conflituosa identificação com o corpo atual. Dessa forma, sentimentos de revolta e angústia frente à nova condição, configuram o difícil processo de luto na vivência da LM e suas implicações psíquicas.

O autopreconceito é um comportamento difícil de ser identificado de imediato nas relações sociais e afetivas após a LM, além do amplo significado que é dado ao preconceito social, que, por sua vez, é excludente em todos os seguimentos da sociedade, inclusive, entre profissionais de saúde. De acordo com a Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência Comentada, as próprias pessoas com deficiência, em alguns casos, se omitem não acreditando que podem superar seus próprios medos e preconceitos; é mais fácil viver na redoma, no casulo criado para ela, que ela também o mantém, do que assumir que é diferente, e que, apesar de sua condição, tem possibilidade de vida.

Outrossim, a imagem corporal é modificada após a LM. Frente a isso, perpassa-se, em muitos casos, a reintegração da nova imagem, podendo construir sentidos e nova identidade ao sujeito, contudo, em alguns casos, esse processo é dificultado. Assim, entende-se que a vivência da LM é singular e complexa, sentida como um abalo à identidade, sendo importante como auxiliador da reconstrução da imagem corporal, o amparo dos profissionais de saúde na criação de estratégias para lidar com os abalos e as angústias ante a nova condição.

Destarte, no imaginário social, a pessoa com deficiência é caracterizada por suas limitações e pelos artefatos dos dispositivos assistivos. A cadeira de rodas (CR), símbolo da deficiência, que poderia ser percebida como uma tecnologia assistiva que amplia as habilidades funcionais de pessoas com deficiência e, consequentemente, contribui para a promoção de uma vida mais independente, ainda é simbolicamente associada à imagem desfavorável da deficiência.

Diagnóstico

Deste modo, considerando que o diagnóstico de uma doença crônica ou a aquisição de uma deficiência origina impactos que interferem na vida do indivíduo, uma vez que ele irá passar por um conjunto de mudanças nas rotinas diárias, no estilo de vida e, principalmente, por uma transformação pessoal; e que o suporte social encontra-se positivamente correlacionado com o bem-estar e com comportamentos mais resilientes, são fatos que justificam a relevância do estudo.

Ademais, a compreensão e o reconhecimento do autopreconceito e do preconceito social, sentimentos por vezes velados por pessoas com LM e suas famílias, podem auxiliar os profissionais no direcionamento de estratégias que estimulem essas pessoas para o enfrentamento do ritmo de vida preciso, favorecendo a sua adaptação, reabilitação e ressocialização.

Optamos pela Sociologia Compreensiva e do Quotidiano, como aporte teórico-filosófico da pesquisa, por nos permitir uma visão ampliada sobre o cotidiano dessas pessoas, na perspectiva de que, tudo que é humano precisa ser objeto de nossa análise. Consideramos oportuno integrar às práticas reabilitadoras, a compreensão do cotidiano e dos significados do viver e conviver com a LM, como a “maneira de viver dos seres humanos, expressa no dia a dia, por interações, significados, crenças, valores, símbolos, imagens, enfim imaginário, que vão delineando seu processo de viver, em um movimento de ser saudável e adoecer, pontuando seu ciclo vital”.

Diante do exposto, desenvolvemos o presente estudo a partir da seguinte questão de pesquisa: como as pessoas com LM e suas famílias percebem o autopreconceito e o preconceito social no cotidiano? Ante o exposto, este estudo objetivou compreender a vivência do autopreconceito e do preconceito social no cotidiano de pessoas com LM e de suas famílias.

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