Reflexão sobre teorias, paradigmas e um panorama das condições de vida, saúde, adoecimento, cuidado e morte de pessoas negras.
A superação das iniquidades raciais em saúde é um dos principais desafios na agenda de pesquisas e implementação de políticas e ações de promoção de justiça social no Brasil. Porém, as publicações científicas sobre estas disparidades ainda é escassa. Por isso, é fundamental reunir evidências que demonstrem as múltiplas facetas e expressões do racismo e seus impactos sobre o processo saúde-adoecimento-morte das populações afetadas.
Na ainda esparsa produção nacional sobre a temática da saúde da população negra (SPN) evidencia-se lacunas significativas, sendo notável a invisibilidade da realidade das regiões Norte e Nordeste, assim como de determinados grupos, a exemplo dos quilombolas, da população negra em situação de rua, dos encarcerados, dos jovens negros, vítimas sistemáticas da ação de agentes policiais, e das comunidades negras rurais e urbanas que convivem com os danos ocasionados pelo racismo ambiental. Esta coletânea visa contribuir para suprir algumas destas lacunas, fomentando o compartilhamento do saber produzido entre pesquisadores, gestores, profissionais de saúde, representantes de movimentos sociais e as comunidades, contribuindo para uma maior compreensão acerca das dimensões estruturais, institucionais e relacionais do racismo na SPN brasileira, com especial ênfase para as regiões Norte e Nordeste.
A obra é um dos resultados do Programa de Cooperação Acadêmica da CAPES (Procad-Amazônia, Edital n° 21/2018/CAPES) que se estruturou através de uma rede multicêntrica de pesquisa e formação na temática “Vulnerabilidade e repercussões para a saúde: população negra, quilombola, indígena e outros grupos vulnerabilizados”. Integram a rede o Programa de Pós-Graduação em Saúde, Ambiente e Sociedade na Amazônia da Universidade Federal do Pará (PPGSAS/UFPA), o Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (PPGSC/ISC-UFBA) – notadamente os grupos de pesquisa Comunidade, Família e Saúde (FA-SA) e Epidemiologia e Avaliação de Impactos na Saúde das Populações – e o Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Estadual de Feira de Santana (PPGSC/UEFS).
Os temas centrais abordados na coletânea foram objeto de debate no I Seminário Norte-Nordeste Sobre Saúde da População Negra: Uma Abordagem Interdisciplinar e Interseccional, realizado em Salvador em novembro de 2019. O evento contribuiu para dar visibilidade às contribuições e desafios da pesquisa em Saúde da População Negra no Brasil, assim como a conhecimentos e práticas relevantes associadas ao ativismo neste campo, em especial nas duas regiões em foco.
Pretende-se através desta obra aprofundar as análises epistemológicas, teóricas, metodológicas e políticas que foram esboçadas no evento, reforçando a aposta no diálogo transdisciplinar. Procurou-se reunir, notadamente, contribuições da pesquisa em ciências sociais e humanas na abordagem de temas e problemas relevantes para a saúde da população negra (SPN) no Brasil. Além disso, a coletânea revela o investimento em pesquisas mais horizontais e participativas que tem procurado favorecer a produção compartilhada de conhecimento entre academia e sociedade, em especial de ativistas que atuam no campo da SPN, contribuindo também para o reconhecimento do lugar de fala e de atuação de atores sociais não acadêmicos.
Em suma, os nove capítulos deste volume trazem contribuições importantes para o conhecimento e reflexão sobre teorias, paradigmas e um panorama das condições de vida, saúde, adoecimento, cuidados e morte referentes a populações em situação de vulnerabilidade no país, especialmente a população negra.