Analisa o conhecimento de profissionais atuantes em uma instituição de longa permanência para idosos sobre o Processo de Enfermagem antes e após oficina de sensibilização.
O envelhecimento humano é um processo natural (senescência) em que ocorrem alterações morfológicas, fisiológicas, bioquímicas no organismo, não relacionadas com doenças. Caracteriza-se como um fenômeno mundial, já que, em 2019, havia 703 milhões de pessoas com 65 anos ou mais na população, e projeções indicam que esse número deverá dobrar para 1,5 bilhão em 2050. Desse modo, haverá duas pessoas com mais de 65 anos para cada uma de até quatro anos no mundo.
O Brasil também manteve a tendência de envelhecimento dos últimos anos. A população total do país foi estimada, no ano de 2021, em 212,7 milhões, o que representa um aumento de 7,6% em relação ao ano de 2012. Nesse período, a parcela de pessoas com 60 anos ou mais se elevou de 11,3% para 14,7% da população. Em números absolutos, esse grupo etário passou de 22,3 milhões para 31,2 milhões, crescendo 39,8% no período.
Embora o processo de envelhecimento não represente (con)viver com doenças, à medida que as pessoas envelhecem, tornam-se mais propensas ao desenvolvimento de condições de saúde que exigem cuidados, os quais, na realidade brasileira, são, na maioria nas vezes, desenvolvidos ou gerenciados por familiares. No entanto, conforme o grau de dependência da pessoa idosa, os familiares podem apresentar dificuldades diversas para o desenvolvimento ou gerenciamento do cuidado, as quais podem estar relacionadas a inúmeros fatores, como à ausência de habilidades para realizar o cuidado e às rotinas de trabalho, que dificultam a presença física dos familiares.
Logo, surgem estabelecimentos destinados ao cuidado das pessoas idosas, dentre os quais destacam-se as Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs), as quais se caracterizam como locais públicos ou privados que possuem o objetivo de oferecer a moradia, alimentação, auxílio em atividades diárias e cuidado por profissionais de saúde. As ILPIs são estabelecimentos para atendimento integral de pessoas com 60 anos ou mais, dependentes ou independentes, que optam ou que não dispõem de condições para permanecer com a família ou em domicílio unicelular.
As ILPIs são regulamentadas pela Resolução RDC nº 502, de 27 de maio de 2021, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. No que se refere ao funcionamento técnico e à modalidade dos serviços assistenciais, podem ser classificadas de acordo com os diferentes graus de dependência, quais sejam: dependência I – pessoas idosas independentes, mesmo que requeiram uso de equipamentos de autoajuda; dependência II – pessoas idosas com dependência em até três atividades de autocuidado para a vida diária, tais como alimentação, mobilidade, higiene, sem comprometimento cognitivo ou com alteração cognitiva controlada; dependência III – pessoas idosas com dependência que requeiram assistência em todas as atividades de autocuidado para a vida diária e/ou com comprometimento cognitivo.
Nesses locais, denota-se a atuação de profissionais variados, com vistas a atender às necessidades bio-psico-socio-espirituais das pessoas idosas. Entre os profissionais que atuam na ILPI, destaca-se a equipe de enfermagem, em especial o enfermeiro, por ser o profissional responsável pela liderança e gerenciamento do processo de cuidado às pessoas nos diferentes cenários em que essas se encontram. Além disso, junto à equipe, permanece a maior parte do tempo nos cuidados às pessoas idosas.
A atuação do enfermeiro junto às pessoas idosas na ILPI, assim como em outros cenários, deve ser desenvolvida com base no Processo de Enfermagem (PE). PE é conhecido como método orientador do pensamento crítico e o julgamento clínico do enfermeiro, o qual direciona o cuidado desenvolvido pela equipe de enfermagem à pessoa, família, coletividade e grupos especiais, por meio de cinco etapas inter-relacionadas, interdependentes, recorrentes e cíclicas: avaliação de enfermagem; diagnóstico de enfermagem; planejamento de enfermagem; implementação de enfermagem; e evolução de enfermagem. O PE, na prática assistencial, constitui-se um método de organização do trabalho de enfermagem, sendo uma importante ferramenta no processo do cuidado.
Tendo em vista a necessária utilização do PE no cuidado, o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), por meio da Resolução no. 736 de 2024, determinou o uso do mesmo em todo o ambiente socioambiental em que ocorra o cuidado de enfermagem. Entretanto, o que se observam em alguns desses ambientes são a não execução/aplicação do PE, o que denota a necessidade de compreender o que pode estar atrelado a essa situação. Assim, é preciso investigar o que os profissionais que atuam em ILPIs conhecem sobre o PE no cuidado à pessoa idosa, com vistas à identificação de possíveis lacunas do conhecimento, as quais podem ser minimizadas com intervenções que objetivem aprofundar o conhecimento e, por conseguinte, maior possibilidade de cuidado às pessoas.
Entre as metodologias possíveis para esse fim, destacam-se as oficinas de sensibilização/capacitação, pois oportunizam a construção participativa, a troca de experiências e conhecimentos, assim como instrumentalizam os participantes. Possibilitam, ainda, a construção de grupos onde os participantes se dispõem a trabalhar em cooperação, com vistas à (re)construção das situações vivenciadas. Contudo, para além de realizar oficinas, é preciso avaliar a contribuição destas para os profissionais, por meio da produção de conhecimento e/ou aprofundamento do mesmo, fato que justifica a necessidade e relevância desta pesquisa. Além disso, investigações relacionadas à saúde da pessoa idosa são destacadas pelo Ministério da Saúde (MS) como prioridades de pesquisa no Brasil.
Nesse sentido, questiona-se: qual o conhecimento de profissionais atuantes em uma instituição de longa permanência para idosos sobre o Processo de Enfermagem antes e após oficina de sensibilização?