O Trabalho Gerencial no Contexto da Atenção Primária à Saúde

16 de fevereiro de 2023 por filipesoaresImprimir Imprimir

Compreende o trabalho gerencial no contexto da atenção primária à saúde.


O presente estudo teve como objetivo compreender o trabalho gerencial no contexto da atenção primária à saúde. Trata-se de um estudo de caso de abordagem qualitativa, tendo como cenário o município de Betim.

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Os participantes foram doze gerentes de unidades de Atenção Primária à Saúde e quatro gerentes de nível central, perfazendo 16 participantes. Foram utilizadas como fontes de evidência a análise documental, a observação, a entrevista com roteiro semiestruturado e a Técnica do Gibi. A coleta de dados foi realizada nos meses de setembro a novembro de 2015. Os dados foram analisados mediante Análise de Conteúdo proposta por Bardin (2011).

Os resultados foram organizados em quatro categorias, a saber: Reestruturação do trabalho no município de Betim; Singularidades do trabalho gerencial; Simbologias e significados atribuídos ao trabalho gerencial; Processo decisório e a Governança da Atenção Primária à Saúde de Betim. A análise dos depoimentos obtidos por meio das entrevistas, observação e da descrição das figuras utilizadas na técnica do Gibi revelaram que o cotidiano de trabalho dos gerentes é marcado por uma prática árdua, mas ao mesmo tempo prazerosa.

Os gerentes mencionam em seu cotidiano de trabalho exercer uma sobrecarga de atividades, que muitas vezes não são específicas da função, o que tem comprometido o desenvolvimento das atividades gerenciais. Os gerentes não possuem uma rotina fixa de trabalho, atuando de forma fragmentada e descontínua e, por conseguinte, não conseguem definir e efetuar as prioridades ao longo do dia, e assim acabam atendendo às demandas à medida que elas vão surgindo. Há, por parte de alguns gerentes, insatisfação quanto à sua remuneração salarial, que não condiz com a carga de compromissos e responsabilidades assumidas. No aspecto organizacional constatou-se que a estrutura física das unidades de atenção primária determina condições de trabalho precárias que limitam a atuação gerencial, reforçada pela ausência de efetivo profissional e escassez de recursos materiais. Outras dificuldades encontradas são os constantes conflitos interpessoais, as questões burocráticas e os entraves político-partidários.

O trabalho do gerente é dotado de simbologias expressas na forma de metáforas, referentes a serem anjos, bruxos, loucos, máquinas de ferro e apagadores de incêndio. Além disso, os gerentes dão significados à sua prática profissional por meio da capacidade em ajudar o próximo, de motivar e liderar sua equipe de trabalho. Quanto ao processo decisório e governança no contexto da atenção primária o exercício gerencial é marcado por situações ambíguas no seu cotidiano, que transitam entre uma maior autonomia de intervenção e tomada de decisão, à impotência e ausência de governabilidade para transformar realidades e necessidades por eles identificadas. Embora os gerentes reconheçam a importância de exercerem um trabalho em equipe e intersetorial, e de estimularem a implementação de instâncias colegiadas no âmbito da organização, nem sempre suas ações e decisões são tomadas com a participação de todos os atores sociais, a saber gestores, profissionais e usuários.

Conclui-se que apesar dos gerentes reconhecerem a importância das decisões serem corresponsabilizadas, e a Secretaria de Saúde mobilizar mudanças para uma gestão colegiada, ainda assim, os gerentes reforçam muitas vezes em sua prática a centralização das decisões, perpetuam um modelo de gestão tradicional, com hierarquização, ações burocráticas e de controle, em detrimento ao planejamento estratégico e participativo das ações de saúde.

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