Compreende a história de enfermeiros e enfermeiras atuantes no enfrentamento da pandemia da COVID-19 e suas vivências pessoais e profissionais.
A COVID-19, doença conhecida na China no final de 2019, torna-se uma pandemia e modifica a vida de todas as pessoas. Com alta transmissibilidade, mortalidade considerável e um quadro geral de incertezas em relação ao seu desenvolvimento, todos os países passam a se organizar da forma que era possível.
Na área da saúde, ao mesmo tempo que instituições e profissionais passam por estruturações no sentido de organizar os serviços, problemas já existentes como relações fragmentadas no trabalho, sobrecarga, precariedade de recursos, falta de apoio à saúde do trabalhador, entre outras fragilidades vêm à tona. O profissional enfermeiro, conhecido pela proximidade com os usuários e pelos cuidados constantes, está inserido nesse cenário e vivendo transformações pessoais e profissionais. Questiona-se então como a história da pandemia – COVID-19 – vem sendo construída no cotidiano de enfermeiras e enfermeiros brasileiros? Como estabelece, pessoal e profissionalmente, sua história como enfermeiro nesse momento de grande relevância histórica, social e econômica para a população mundial? O presente estudo tem como objetivo compreender a história de enfermeiros e enfermeiras atuantes no enfrentamento da pandemia da COVID-19 e suas vivências pessoais e profissionais.
Trata-se de uma pesquisa com abordagem qualitativa, com 30 enfermeiros atuantes na linha de frente do enfrentamento da COVID-19 dos diferentes Estados brasileiros. A coleta dos dados aconteceu por meio de entrevista com roteiro semiestruturado, de junho de 2020 a agosto de 2021, via plataformas virtuais de comunicação de acesso livre. Utilizou-se como referencial metodológico a História Oral e referencial teórico a Sociologia Compreensiva do Cotidiano proposta por Michel Maffesoli. A análise das entrevistas possibilitou a construção de três categorias para discussão: 1. Assim Começa a História: Momentos Vividos; 2. Vivenciando a Pandemia: O Enfrentamento da COVID-19 pelos Enfermeiros e Enfermeiras; 3. O que ainda temos a vivenciar: expectativas, fim, recomeço? Foi possível compreender que a história de enfermeiros e enfermeiras atuantes na linha de frente da pandemia foi construída, e ainda é, em meio a um contexto político, social e econômico instável e a incertezas que trouxeram novas formas de trabalho, de cuidar e de ser. A vida antes da COVID-19 mostrava o trabalho com uma carga histórica de desvalorização, busca de melhores salários e sobrecarga mas era possível o contato com a família e amigos e a realização de atividades de lazer. Com a chegada da pandemia todas as áreas foram tomadas por incertezas econômicas, políticas e sociais; em relação às informações que eram veiculadas e consequentemente sobre como agir no contexto da saúde.
Reafirmam-se os problemas já vivenciados pela enfermagem e somam-se a eles mudanças nos fluxos e protocolos, fragilidades como a indisponibilidade de equipamento de proteção individual, o adoecimento e morte de colegas, a necessidade de se abordar a saúde do trabalhador e de reconhecer o enfermeiro como ser humano. Em meio a tantas dificuldades, a missão de cuidar e o desejo de fazer seu papel enquanto profissional foi o que motivou a continuidade da assistência nesse momento histórico. Os colaboradores do estudo tinham como expectativas em relação à vivência da pandemia maior valorização da enfermagem e do saber com base na ciência, melhores condições de trabalho e assistência ao trabalhador, a produção de vacinas e minimização da crise, o aprimoramento da tecnologia como ferramenta de trabalho e a transformação das pessoas e seus valores.
Espera-se que a COVID-19 e os resultados do presente estudo despertem não somente a necessidade de modificações no sistema de saúde, mas também de um olhar diferenciado para os profissionais enfermeiros.