Reflete sobre a diligência de três estudos que seguiram o convencionado na Pesquisa Convergente Assistencial como referencial metodológico.
Este artigo consiste de uma reflexão sobre a diligência de três estudos que seguiram o convencionado na Pesquisa Convergente Assistencial (PCA) como referencial metodológico. A elaboração deste tema se justifica por ser uma necessidade sentida pelas autoras da abordagem da PCA, de mostrar aos interessados o que vem a ser essencial na caracterização de um estudo segundo este método. Contudo, tal como ocorre com outros tipos de pesquisa, também a PCA tem sido, por vezes, interpretada de modo equivocado em alguns outros estudos, os quais, eventualmente, podem declarar se utilizar de um determinado método de pesquisa, mas, finalmente, o processo e suas estratégias pouco ou nada têm a ver com as diretrizes do método proclamado.
A crítica de que a PCA e a pesquisa-ação se confundem contém equívocos, os quais se tornam facilmente reconhecidos quando se atenta para o processo descrito pelos autores das três pesquisas que são exploradas no desenvolvimento deste texto. Fundamentalmente, na pesquisa-ação o pesquisador é mais um facilitador ou consultor do processo de pesquisa e menos diretivo. Não é necessário que esse pesquisador seja um expert na área de conhecimento em que está sendo realizado o estudo. Diferente disso, na PCA, o pesquisador é um profissional da área da saúde que atua naquele local de pesquisa e que tem a expertise naquela área de conhecimento assistencial, tendo, portanto, um papel mais propositivo, mesmo que, necessariamente, precise contar com a participação e aprovação dos demais integrantes de seu estudo. A PCA nasce da prática assistencial de saúde e a ela retorna com soluções teorizadas de natureza tecnológica do cuidar. As tecnologias leves, leves-duras e duras são geradas também com esse tipo de pesquisa já classificada em textos publicados.
A PCA é uma abordagem de pesquisa que foi formulada a partir de ideias do corpo docente do Programa de Pós-Graduação de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina nos anos de 1980 a 1990. A PCA se caracteriza pela realização de melhoramentos com introdução de inovações no contexto da prática assistencial de enfermagem e saúde. A mudança inovadora na prática assistencial é a especificidade da PCA, também, necessariamente, o que lhe confere identidade. Em linguagem metafórica, essa mudança no contexto da prática assistencial que se dá alavancada pelo desenvolvimento de um projeto dessa pesquisa é como se pudesse ser aproximada ao que na biologia seria o “DNA” de uma espécie, ou seja, o que determina, por destaque, em todo o processo, o alcance finalístico de um módulo PCA. Assim, ainda que alguns outros aspectos componham um conjunto de elementos qualificadores de uma PCA, bem presentes durante a realização da pesquisa em função da assistência em si, este alcance na prática assistencial requer ser distinguido como definitório deste tipo de investigação, denominada, por isso, convergente assistencial.
Portanto, não havendo essa proposição de melhoramentos ou resultados voltados à introdução de inovações na prática assistencial por meio de um projeto de pesquisa, este não se caracteriza como um delineamento de PCA. A fim de alcançar essa finalização, a PCA reúne um conjunto de atributos que precisam ser rigorosamente seguidos ao longo do processo de pesquisa. O entorno dos melhoramentos/das inovações é construído por informações fidedignas obtidas no decorrer do processo de pesquisa, até porque, para haver mudanças no processo da prática assistencial, é imprescindível o envolvimento dos protagonistas nessa mesma prática assistencial. Isso envolve também um relacionamento de equipes, em caráter dialogal e dialógico, entre os que constroem esse tipo de pesquisa, inserido, por óbvio, em pleno cenário da assistência. A convergência das ações da prática assistencial e ações da pesquisa, ocorrem por simultaneidade, em decorrência de um processo de alternância de momentos de aproximação e momentos de afastamento entre as ações da prática assistencial e as ações da pesquisa, ambas intencionalmente dispostas no ambiente assistencial.
O conceito de convergência na PCA é entendido como sendo o entrecruzamento de ações de assistência com as ações de pesquisa, encontro esse que proporciona possibilidades de leitura e descoberta de novos fenômenos. “O construto convergência é o núcleo regente dos demais conceitos que organizam a base teórica filosófica do delineamento da PCA. Os conceitos regidos por esta convergência possuem propriedades individualizadas e compatibilizadas pela regência do construto.” Assim, constituem-se atributos essenciais da PCA e estão denominados: imersibilidade, simultaneidade, expansibilidade e dialogicidade.
A imersibilidade representa o “mergulho” do pesquisador nas ações de pesquisa e nas ações de prática assistencial no mesmo espaço físico e temporal do contexto do estudo. A simultaneidade implica na “dança”, ou seja, o movimento em recíproca convergência das ações de pesquisa e ações da prática assistencial durante o processo da PCA. Expansibilidade é um atributo que confere à PCA o poder de ampliar o propósito inicial do pesquisador para além de reconstruir o contexto da prática assistencial em si, quando poderá também descobrir novos conhecimentos para construção de novas teorias. Por sua vez, a dialogicidade vai tornar compreensível a existência da unidualidade (assistência e pesquisa); isto é, as relações das duas instâncias em torno de um fenômeno, sem descaracterizar a unidade, em cada uma delas.
Métodos de pesquisa que se envolvem com a transformação da realidade, incluindo algumas desigualdades sociais e econômicas, podem ter uma contribuição mais efetiva em países em desenvolvimento como o Brasil, e tem conquistado o reconhecimento de sua pertinência e contribuição.