Maternando nos Limites do Tempo e do Sistema Prisional

23 de agosto de 2023 por filipesoaresImprimir Imprimir

Compreende as vivências do parto e da maternagem de mulheres detidas em unidades prisionais.


Mulheres grávidas em situação de cárcere experimentam alta vulnerabilidade de saúde, considerando as dificuldades e limitações vividas nesta condição, podendo resultar em tragédias ao final do processo de gestação, com mortes materno infantis consideradas evitáveis. Os filhos podem ser separados precocemente da mãe, exacerbando sua condição de sofrimento e privação do contato com o recém-nascido. Outros permanecerão com a mãe e experienciarão a condição de prisão e as limitações por ela impostas.

maternagem

Objetivos: Compreender as vivências do parto e da maternagem de mulheres detidas em unidades prisionais no interior do estado de São Paulo. Pretende-se, ainda, conhecer as interações sociais presentes na experiência de ser mãe no sistema prisional e as estratégias para lidar com as condições oferecidas para a maternagem nesse sistema.

Método: Tratou-se de estudo qualitativo, fundamentado nos referenciais teóricos e metodológicos do Interacionismo Simbólico e da Teoria Fundamentada nos Dados, respectivamente. Para o levantamento e a análise comparativa dos dados, foram definidos dois grupos amostrais, no total de 17 mulheres que deram à luz e maternaram na prisão. Os dados foram coletados por entrevistas e observação não participante e ocorreram em duas penitenciárias. Os dados foram validados por duas mulheres.

Resultados: As mulheres vivenciam o processo em duas vertentes: maternar na prisão e separar-se do filho na prisão. Do processo de análise emergiram seis categorias: Incorporando a identidade materna e a maternagem no Sistema Prisional; Desvelando a maternagem diferente na prisão; Adaptando-se aos limites da maternagem na prisão; Expectando o amor e a identidade materna pelo filho; Refletindo o ser mãe na prisão, para si e para o filho; e Vivenciando a separação do filho. A categoria central foi definida pela integração das categorias e nomeada como Maternando nos limites do tempo e do sistema prisional. O modelo teórico defende a tese de que mulheres que dão a luz e maternam na prisão constroem significados que orientam a maternagem a partir das interações que constituem essa experiência; isso as leva a continuar maternando após a separação, por meio do cuidado possibilitado por avó materna, visitas, cartas e presentes, e a refletir e a sofrer com a separação, desde a gestação.

Considerações finais: Considera-se que mulheres em estabelecimento prisional vivenciam uma maternagem diferente, visto que ela ocorre nos limites do tempo e do sistema prisional. Para interagir com esses limites, as mulheres se utilizam de estratégias como entregar o filho para a avó materna e continuar maternando à distância. O modelo teórico desenvolvido poderá contribuir para o manejo da maternagem no interior das prisões pelos profissionais de saúde, em especial para a enfermagem. Do mesmo modo, poderá subsidiar propostas de políticas públicas em atendimento a essa demanda.

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