Reflete sobre a necessidade de reorganização das Unidades Satélites de Diálise a fim de garantir a segurança dos pacientes e trabalhadores, centrando-se na minimização de risco de contaminação pelo SARS-CoV-2.
A COVID-19 (Coronavirus Disease 2019) causada pelo SARS-CoV-2 (sigla do inglês para Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2) fez o mundo parar em atendimento às necessidades de implantação de medidas de contenção à pandemia. A despeito de medidas preventivas instituídas pelas autoridades em prol da saúde pública – sejam individuais como o uso de máscaras caseiras/profissionais, higiene de mãos com água e sabão ou com solução alcoólica a 70%, etiqueta respiratória, distanciamento social, sejam coletivas como permanência em casa e manutenção de serviços não essenciais fechados ou em atividade remota -, as instituições de saúde também precisaram rever seus processos de forma a garantir medidas de barreira para minimizar o risco de transmissão do vírus.
A doença provocada pelo novo coronavírus mostrou ter maior mortalidade na população com idade avançada e com presença de comorbidades tais como diabetes mellitus (DM), hipertensão arterial (HAS) e doenças cardiovasculares (DCV).
Nesse contexto, podem ser acrescentados os pacientes com doença renal crônica (DRC) estágio 5, que dependem de terapia renal substitutiva (TRS) para manutenção da vida. Eles também fazem parte do grupo de risco para a COVID-19 por, em geral, serem idosos, terem doenças associadas como DM, HAS e DCV, além de terem maior probabilidade de desenvolver doenças infecciosas sistêmicas pela imunodeficiência causada pela DRC do que a população em geral.
No Brasil, os Serviços de Diálise têm protocolos de boas práticas de funcionamento estabelecidos por legislações específicas e são anualmente visitados pela Agência de Vigilância Sanitária para avaliação. No entanto, no contexto da COVID-19, esses serviços precisaram criar novas estratégias para garantir a segurança de todos, sejam profissionais, sejam pacientes.
A hemodiálise (HD) é uma das modalidades de TRS. Os pacientes que estão em regime ambulatorial de HD necessitam comparecer no mínimo três vezes por semana a uma Unidade de Diálise para serem submetidos ao procedimento. Portanto, o isolamento social não é uma possibilidade real para esses indivíduos. A grande parte fica exposta ao maior risco de contaminação, pois utiliza transporte público para locomoção, ou usa transporte compartilhado com vários pacientes e acompanhantes.
Essas Unidades têm grande dificuldade de manter as orientações de distanciamento de 2 metros – o qual efetivamente diminui o risco de contaminação pelo vírus -, pois não é possível fazer isso nas salas de HD visto que até 50 pacientes são submetidos ao procedimento ao mesmo tempo e não há como reduzir o número deles por turno de diálise. O início das atividades nessas Unidades geralmente se dá às 6h, e o término é às 21h. Em muitas localidades, existe o risco da violência urbana, associado ao fato de não ter transporte público disponível durante a madrugada, o que não favorece o aumento dos turnos de hemodiálise como alternativa para diminuir o número de pacientes em HD por horário. Outra barreira é a limitação do número de profissionais de saúde disponíveis para atuar em horários alternativos, principalmente os da área de enfermagem, que são em maior número e atuam na assistência direta ao paciente.
Infelizmente, pela impossibilidade de testagem da maior parte dos pacientes em HD para confirmação diagnóstica, existe um grande desafio em realizar o controle adequado para conter a transmissão que ocorre em larga escala entre esses pacientes, profissionais da assistência, profissionais de apoio e familiares.