Guia da Gestão Autônoma da Medicação Como Ferramenta Educativa do Enfermeiro na Atenção Psicossocial

24 de janeiro de 2024 por filipesoaresImprimir Imprimir

Analisa as repercussões da intervenção educativa do enfermeiro com o uso do Guia da Gestão Autônoma da Medicação para usuários de um Centro de Atenção Psicossocial.


As políticas públicas na área de saúde mental têm passado nas últimas décadas por intensas transformações para sua legitimação, objetivando a descentralização das ações em saúde para um cuidado em rede que contemple a integralidade e a subjetividade das pessoas. Nessa perspectiva, a Política de Saúde Mental brasileira, com foco na valorização dos direitos humanos dos usuários e no cuidado em liberdade e comunitário, se alinha às diretrizes de saúde mental estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), especialmente ao Programa Quality Rights. No âmbito dessas diretrizes nacionais e internacionais, os usuários passam a ser vistos como protagonistas do seu próprio tratamento, e não mais como objetos da violência propagada no contexto das instituições psiquiátricas.

Foto: Secretaria de Saúde (Ceará).

O envolvimento dos usuários na produção de saúde representa importante meta a ser alcançada, principalmente nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que realizam atendimentos às pessoas com transtornos mentais graves e persistentes com foco na reabilitação psicossocial. Entretanto, a efetiva participação dos usuários ainda não se constitui realidade plena nos serviços, sobretudo nas decisões sobre seu tratamento, em especial o medicamentoso. Nesse sentido, a utilização do Guia da Gestão Autônoma da Medicação (Guia GAM), tem a proposta de, a partir de um trabalho em grupo, com o exercício contínuo de diálogo entre usuários e profissionais, reconhecer suas experiências e saberes com relação aos múltiplos significados da medicação.

Gestão Autônoma da Medicação

O Guia GAM, foi desenvolvido em Quebec, no Canadá, no início dos anos 1990, com a proposta inicial de contribuir para a participação ativa de pessoas que faziam uso de medicações psicotrópicas em seu próprio tratamento. Em 2009, a partir de um estudo multicêntrico, o Guia foi adaptado transculturalmente e validado para a realidade brasileira, levando em conta o contexto da reforma psiquiátrica e da consolidação dos direitos dos usuários dos serviços de atenção psicossocial.
Elaborado para ser compreendido por diversos atores sociais, tais como usuários, profissionais e familiares, o Guia GAM utiliza um vocabulário de fácil entendimento, composto por textos, figuras, tabelas e perguntas, que facilitam o compartilhamento das experiências e a construção de novos conhecimentos. As discussões são organizadas para abordar diferentes aspectos da vida dos participantes, como o autoconhecimento, a rede de apoio e os direitos dos usuários à saúde, que poderão interferir no uso das medicações.
Nessa conjuntura, o enfermeiro é um profissional que se insere nos diferentes cenários do cuidar, assumindo um papel significativo com participação ativa na implantação de projetos e programas direcionados para promoção, prevenção e recuperação da saúde. A assistência de enfermagem voltada para o campo da saúde mental tem sido subsidiada por intervenções educativas que possibilitam a integração entre o cuidado clínico e às necessidades advindas com o processo de sofrimento psíquico, para que os usuários possam ser assistidos a partir do contexto biopsicossocial.
Através de uma abordagem dialógica e participativa, é possível fortalecer a autonomia dos usuários e garantir seu envolvimento nos projetos terapêuticos. Diante do exposto, este estudo apresenta como objetivo, analisar as repercussões da intervenção educativa do enfermeiro com o uso do Guia GAM para usuários de um CAPS.
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