Guia de Saúde Mental Pós-Pandemia no Brasil

20 de junho de 2023 por filipesoaresImprimir Imprimir

Sobre a saúde mental dos profissionais de saúde, principalmente daqueles que estiveram na linha de frente enfrentando as agruras dos efeitos devastadores da Covid-19 nas vidas dos pacientes e suas famílias.


No momento do lançamento da versão anterior deste guia, em novembro de 2020, o Brasil contava com cerca de 120 mil mortes por Covid-19. Hoje, são cerca de 685 mil! De forma otimista, esperávamos no lançamento anterior que, em 2021, já estivéssemos lidando com o pós-pandemia. Fato que se mostrou, infelizmente, irreal. A versão anterior buscava trazer, em uma linguagem acessível, dados sobre o impacto da pandemia na saúde mental da população em geral como parte do que se convencionou chamar de a quarta onda, ou seja, o aumento de doenças mentais e trauma psicológico, provocados diretamente pela infecção ou por seus desdobramentos secundários.

Guia-saude-mental-pos-pandemia-Brasil
Nessa nova edição, queremos focar na saúde mental dos profissionais de saúde, principalmente daqueles que estiveram na linha de frente enfrentando, no dia a dia, as agruras dos efeitos devastadores da Covid-19 nas vidas dos pacientes e suas famílias.
Durante toda a produção deste documento, buscamos dados precisos que pudessem nos dar a estimativa do número de profissionais de saúde que morreram durante a pandemia no país. Esse dado não é claro! Entretanto, estimativas conservadoras indicam que pelo menos 13 mil profissionais de saúde perderam a vida para Covid-19, como discutido no capítulo inicial.
Mas mesmo naqueles que permaneceram vivos , o impacto do enfrentamento cotidiano da doença, com o sofrimento e morte de pacientes, familiares e amigos, leva a cicatrizes emocionais e impacto direto na saúde mental. Esses profissionais não tiveram, muitas vezes, oportunidades e nem foram preparados para pensar na sua saúde mental.
Diversos estudos internacionais têm se dedicado a estimar as taxas de prevalência de transtornos mentais em profissionais de saúde durante a pandemia. Revisões sistemáticas apontam, como será melhor detalhado em diversos capítulos, o aumento de transtornos de ansiedade e comportamentos depressivos, assim como incremento de estresse agudo, sintomas pós-traumáticos, de insônia e burnout nessa população.
Diversos estudos internacionais têm se dedicado a estimar as taxas de prevalência de transtornos mentais em profissionais de saúde durante a pandemia. Revisões sistemáticas apontam, como será melhor detalhado em diversos capítulos, o aumento de transtornos de ansiedade e comportamentos depressivos, assim como incremento de estresse agudo, sintomas pós-traumáticos, de insônia e burnout nessa população da pandemia, seja de seus pacientes ou mesmo de familiares e amigos, como vamos abordar em outros capítulos deste guia. Aqui de novo, em proporções bem maiores do que outros profissionais!

Saúde Mental Pós-Pandemia

Importante salientar que, como será abordado em capítulo específico, a pandemia também impactou, como na população em geral, na saúde física do profissional de saúde. Fenômeno previsível, seja pela imensa inter-relação corpo-cérebro/saúde física-saúde mental determinando que ansiedade, depressão e estresse emocional levem a menores cuidados com a saúde física, ou simplesmente pela falta de tempo durante a pandemia para os cuidados necessários de saúde.
Quando se olha para um cenário tão difícil como esse, é sempre fundamental chamar atenção para as iniciativas de sucesso, que devem servir como norte para a nossa conduta, e as oportunidades de crescimento advindas dessas dificuldades. Em termos de intervenções em saúde mental de sucesso, dedicamos um capítulo para discutir os dados do programa chamado TelePSI, um projeto assistencial e de pesquisa destinado ao atendimento dos profissionais da linha de frente. Vale salientar que esse provavelmente é o maior ensaio clínico em saúde mental já realizado para essa população durante a pandemia.
Em termos de oportunidades de aprendizagem para o profissional médico com a pandemia, focamos no uso da telemedicina que, sem dúvidas, cresceu exponencialmente durante a pandemia. Em especial, o capítulo dedicado a esse tema busca a discussão de quais ferramentas restarão para o uso do profissional de saúde no pós-pandemia.
Nesse contexto, insere-se ainda uma questão muito complexa. Como o profissional de saúde busca dados científicos válidos e confiáveis sobre a pandemia para seu consumo próprio e para promover educação continuada em saúde de seus pacientes? Como ele separa as chamadas “fake news”, que aprendemos a reconhecer que também existem na literatura de saúde, de dados confiáveis? Essa reflexão é apresentada em um dos capítulos de forma clara e instigadora. Mas a pandemia também deixou suas marcas nas formas de relacionamento interpessoal, e em aspectos específicos dessas relações, como a área da sexualidade. Outro capítulo nos traz inúmeras reflexões sobre essas transformações.
Não se pode esquecer, no entanto, de apresentar um repertório de iniciativas, ferramentas e estratégias que podem ser colocadas em prática pelo profissional de saúde, para melhor cuidar da sua saúde mental e melhorar a sua qualidade de vida. Mais do que receitas de bolo, o capítulo dedicado a esse tema busca uma reflexão motivacional para instigar o profissional de saúde a olhar também para si e estar atento às suas demandas pessoais, promovendo um melhor bem-estar emocional.
Enfim, a mensagem é que não podemos esquecer de cuidar do cuidador, como bem lembrado num dos primeiros capítulos. Não há como cuidar bem de alguém, se não estamos bem e, muitas vezes, os profissionais de saúde são mitificados como semideuses que não necessitariam do descanso, sono, alimentação adequada, carinho, amparo e tempo com seus familiares e amigos, devendo apenas executar algo similar aos “sete trabalhos de Hércules” durante a pandemia. Esperamos que você tenha uma leitura agradável, que lhe acrescente e lhe faça refletir sobre o quanto temos que dar atenção e cuidados a nós mesmos para melhor atender aos nossos pacientes.
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