Explora a experiência vivenciada por profissionais de saúde (intensivistas) no processo de gestão do cuidado de pessoas em morte encefálica.
A gestão do cuidar é compreendida como a capacidade de saber a melhor maneira de fazer, cuidar e gerenciar, de modo que todos esses componentes interajam entre si de forma racional. Cuidar de pessoas com diagnóstico de morte encefálica (ME) é uma questão complexa, pois envolve a capacidade dos profissionais de saúde lidarem com familiares e enfrentarem fragilidades organizacionais e assistenciais que poderão repercutir na promoção de um cuidado acolhedor, resolutivo e individualizado a cada paciente.
O objetivo desta pesquisa qualitativa, do tipo estudo de caso, foi explorar a experiência vivenciada por profissionais de saúde (intensivistas) no processo de gestão do cuidado de pessoas em ME e compreender o significado que atribuem ao processo de cuidar desses pacientes. Participaram do estudo 22 profissionais (médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem) de um hospital de referência em urgência e emergência no município de Goiânia-GO.
Os dados foram coletados por meio de entrevista semiestruturada e a análise temática interpretativa incluiu as etapas de familiarização com os dados; identificação dos códigos; agrupamento dos códigos em núcleos temáticos; revisão dos núcleos; definição e nomeação final dos núcleos; elaboração da descrição e interpretação dos significados expressos sobre a experiência vivenciada pelos profissionais de saúde. Foram identificados os núcleos temáticos: A dimensão técnica do cuidar de pessoas em ME: avanços e dificuldades; O desafio para lidar com a morte e o morrer; A abordagem familiar no contexto da ME.
Os resultados evidenciaram que a instituição do protocolo de ME é considerada um marco e que, após a implantação da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos e Transplantes, em 2014, foram estabelecidos novos procedimentos operacionais que contribuíram para a superação das lacunas e o desenvolvimento de habilidades para lidar com a dimensão técnica. No entanto, o cuidado a esse paciente, quando visto apenas como um corpo, prioriza aspectos técnicos relacionados com higiene, aspiração, mudança de decúbito e tem o propósito principal de melhorar a qualidade e segurança no processo de captação de órgãos para transplante.
Para os profissionais, lidar com a morte e o morrer em situações de ME é um processo emocionalmente desgastante e angustiante para todos, que demanda apoio psicológico. A família, muitas vezes não incluída no plano terapêutico nem acolhida corretamente, vivencia este complexo momento com grande dificuldade. Salienta-se a necessidade de adotar modelos de cuidado com foco central na família do paciente em ME, engajando-a neste processo e amparando-a para o luto. Para tanto, a equipe precisa tomar decisões compartilhadas, de modo que o processo de cuidar ocorra de maneira eficaz e segura.