Analisa os fatores psicossociais que implicam o ambiente da atuação da Enfermagem de uma organização hospitalar.
No mundo do trabalho se constatam mudanças significativas com o avanço da precarização das relações de trabalho, nitidamente identificadas pelo modelo econômico neoliberal, de maximização de lucros e de redução de custos da força de trabalho, mediante extensão de horas laborais, duplas jornadas e baixos salários, imposição de multifuncionalidade e, que comprometem os relacionamentos e os vínculos, a estabilidade no emprego e os direitos sociais e trabalhistas.
Pode-se explicitar agravamento das crises políticas, econômicas, ao longo da pandemia de Covid-19, condição que intensificou fortemente a precarização do trabalho e o desemprego, ameaçando a subsistência e a saúde de curto e longo prazo dos trabalhadores.
Antunes reforça que a Pandemia desnudou e exacerbou em escala global o desemprego, a precarização e a informalidade no trabalho. O autor enfatiza a chamada “uberização” do trabalho, como modelo de uma nova organização do trabalho, com a prática do trabalho autônoma e precária. E que se traduz por uma forma de mascaramento e transfiguração das relações assalariadas, que assume a aparência de autonomia e empreendedorismo, mas o verdadeiro objetivo é de burlar os direitos do trabalho e, desse modo, explorar quase ilimitadamente a força
de trabalho.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT), diante desta realidade que implica precarização do trabalho, faz um alerta para uma recuperação sustentável e inclusiva, centrada no ser humano.
Estas características do mundo do trabalho contemporâneo têm reflexo direto e adverso na saúde e na vida do trabalhador comprometendo o seu desempenho.
Também é legítimo expor que o estado de saúde, bem como o bem-estar do ser humano podem ser influenciados pelo ambiente em que esse se encontra e pela natureza do trabalho que desempenha, tendo essas relações impactos tanto positivos como negativos.
Diante destas transformações que se verificam, no ambiente laboral, ao lado de condições negativas que afetam a saúde dos seres humanos em sua atividade de trabalho, as demandas psicológicas exigidas no trabalho e suas associações com a falta de autonomia se apresentam como variáveis de natureza psicossocial de risco de adoecimento, aspectos que passam a ser objeto de estudo
e de desenvolvimento de modelos de diagnóstico e de investigação.
Assim, os fatores psicossociais que se aplicam para a análise das pessoas em sua condição de trabalho, bem como da organização em que atuam são identificados como riscos emergentes e como possíveis desencadeadores de estresse no trabalho e adoecimento. A exposição aos fatores psicossociais do trabalho (FPT) e do estresse estão intrinsecamente relacionados.
Diante disto, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) elencou os fatores psicossociais como uma das maiores preocupações do ambiente de trabalho, e apontou um novo grupo de riscos à saúde do trabalhador. A partir de 1980 esse grupo de riscos foi identificado e nominado como riscos psicossociais, sendo esses decorrentes da interação entre aspectos do trabalho, do trabalhador e do contexto socioambiental no qual ocorre essa interação.
Estes fatores de riscos passaram a ser objeto de estudo em função do aumento de transtornos mentais associados ao trabalho e das intensas e rápidas alterações no trabalho e em suas relações e condições.
Os transtornos mentais e comportamentais aumentam o risco de acidentes, bem como de ocorrência de suicídio e podem se configurar como agravantes à saúde física e mental dos trabalhadores, em decorrência da interação negativa entre as situações e características do trabalho.
A intensidade dos agravos à saúde dos trabalhadores está relacionada com as condições em que o trabalho se realiza e o modo e tempo de exposição aos fatores de riscos psicossociais da organização empregadora.
Nesse contexto, as instituições hospitalares, que são organizações altamente complexas, empregam o maior número dos profissionais da categoria de enfermagem. Estes trabalhadores da saúde são constantemente expostos a condições de trabalho desencadeadoras de adoecimento e sofrimento físico e emocional e, consequentemente, situações que podem comprometer o resultado de
seu trabalho e a qualidade da assistência prestada aos pacientes.
A precarização das condições de trabalho da área de enfermagem propicia a rotatividade e a evasão desses profissionais, elevados níveis de absenteísmo, de presenteísmo, de adoecimento e de aposentadorias precoces.
Há evidências de determinantes no perfil desses trabalhadores que podem levar aos agravos à saúde, tais como a jornada de trabalho elevada e os baixos salários.
São estabelecidas as relações entre possíveis causas propiciadas pelas condições de trabalho e afecções identificadas na saúde desses profissionais.
Trabalhadores da categoria de enfermagem manifestam insatisfação com: a falta de crescimento, de reconhecimento, de valorização profissional, bem com suas lideranças e a presente desunião com a equipe multiprofissional.
Os estudos acerca dos Fatores Psicossociais do Trabalho (FPT) são relevantes para a área da enfermagem, através de instrumento validado e reconhecido internacionalmente, bem como a análise do desfecho, em seu impacto na saúde física e mental destes profissionais de saúde. Os instrumentos de Avaliações Psicossociais no Trabalho (APT) se propõem a analisar a interação das
características dos avaliados com fatores psicossociais e organizacionais e extra laborais, considerando os aspectos subjetivos do trabalho nas percepções dos trabalhadores.
Na atualidade, os principais instrumentos de rastreamento e de diagnóstico dos fatores psicossociais no trabalho mais difundidos mundialmente são o JCQ (Job Content Questionnaire), o ERI (Effort-Reward Imbalance Questionnaire), o COPSOQ (Copenhagen Psychosocial Questionnaire) e o HSE-IT (Health Safety Executive Indicator Toll).
Existem instrumentos ou questionários para analisar de forma quantitativa, os fatores de risco psicossociais, sendo avaliados de maneira genérica, bem como para ocupações específicas ou riscos específicos. De maneira geral, os instrumentos utilizados para avaliar fatores psicossociais desencadeantes de estresse laboral são estruturados em questões agrupadas em dimensões
psicossociais no processo de trabalho da organização em análise. As questões investigativas são respondidas em escala do tipo Likert para avaliar quantitativamente as percepções obtidas por meio de autorrelato dos trabalhadores.
Nesse sentido, o presente estudo analisou os fatores psicossociais que implicam o ambiente da atuação da enfermagem de uma organização hospitalar, sendo aplicado o Copenhagen Psychosocial Questionnaire (COPSOQ) como forma de registrar e verificar a presença dos principais fatores psicossociais que se identificam na atuação da enfermagem.
Com esta pesquisa se espera que a devolutiva dos resultados para a organização, a discussão com os participantes e demais profissionais da instituição de saúde consigam desenvolver ações de prevenção e de promoção de saúde e um ambiente mais saudável, perante a precarização das condições de trabalho, baixos salários e reconhecimento social e profissional.