Sintetiza as principais evidências científicas disponíveis sobre os fatores associados ao workaholism na saúde mental de enfermeiros.
O workaholism é uma expressão americana utilizada para designar o vício em trabalho, também conhecida como adição ao trabalho, ela faz referência à dependência psicopatológica do indivíduo em relação às suas atividades de trabalho, estando entre as principais causas de adoecimento físico e mental em trabalhadores. Esse fenômeno se desenvolve progressivamente e se manifesta por meio de condutas laborais que atingem aspectos diversos, principalmente os relacionados às demandas social, ocupacional e de saúde.
Na caracterização do estado de adição ao trabalho, duas importantes dimensões de avaliação são delimitadas: trabalho excessivo e compulsivo. O trabalho excessivo está associado à dimensão comportamental e refere-se à conduta aditiva de trabalhar excessivamente por um período extenso de horas, além de apresentar dificuldade em se desvincular do trabalho em momentos de descanso ou férias e envolver-se em múltiplos projetos simultâneos. O trabalho compulsivo está relacionado à dimensão cognitiva e associa-se à pressão interna cognitiva, crenças e pensamentos correlacionados ao trabalho que levam aos comportamentos e atitudes de compulsão.
O workaholism também é associado ao prazer e à satisfação laboral. Entretanto, essa correlação vem sendo questionada e modificada em decorrência do adoecimento mental e de manifestações somáticas provocadas pelo vício em trabalho. Outras nuances comportamentais relacionadas ao trabalho podem ser confundidas com o workaholism. O engajamento no trabalho, por exemplo, também se associa a cargas horárias excessivas e ao extenso envolvimento com as atividades laborais. No entanto, diferentemente da adição, o engajamento interliga-se a um desempenho satisfatório no trabalho em conjunto com sentimentos de empoderamento, afeto positivo e qualidade em saúde.
Entende-se que as circunstâncias e as motivações associadas ao workaholism pertencem a uma complexidade de fatores multidimensionais, nos quais podem ser incluídos: oscilação ou falta de autoestima, sentimento de inferioridade, medo do fracasso, desejo de realização, exigências organizacionais acentuadas e pressão social, devido à valorização constante de alta produtividade e desempenho.
Os workaholics ou “viciados em trabalho”, ao desempenharem suas funções de forma excessiva e compulsiva, abdicam de momentos de descanso, lazer e/ou de interações sociais com cônjuges, familiares e amigos. Todavia, apesar da intensa dedicação ao trabalho, geralmente não conseguem atingir a performance desejada em decorrência do aumento da vulnerabilidade à incapacidade laborativa e dos impactos na saúde biopsicossocial provocados pelo workaholism.
Apesar desse fenômeno apresentar ampla prevalência em categorias profissionais diversas, como 42,1% entre engenheiros, 44,9% entre médicos e 58,3% entre treinadores esportivos, nota-se o tropismo acentuado entre workaholism e enfermeiros. Esses trabalhadores estão expostos a situações e eventos que podem levar a comportamentos disfuncionais e ampliar os riscos à dependência no trabalho.
Enfermeiros lidam diariamente com demandas que envolvem a proximidade com pacientes e familiares, exigindo um domínio de habilidades interpessoais, empatia e compaixão. As exigências pelo desenvolvimento efetivo dessas competências em conjunto com a elevada carga e demanda de trabalho (superior a 40 horas semanais) podem desencadear repercussões negativas à saúde desses profissionais, com o aumento do esgotamento psicológico ( Burnout ), estresse traumático secundário e workaholism.
Comportamentos aditivos entre enfermeiros e seus fatores associados permitem um delineamento explicativo da dimensão dessa problemática. Tais indicativos e considerações revelam a expressiva relação entre o workaholism e as alterações no bem-estar físico e psicológico do enfermeiro.
Estudos de prevalência estimam taxas médias entre 13,77% e 37% de enfermeiros workaholics . Aos enfermeiros workaholics , associam-se agravos de saúde físicos e mentais, como dificuldades para dormir e/ou manter-se acordado durante o trabalho, quadros de depressão leve a moderada e implicações negativas na interação social, familiar e na qualidade da assistência prestada aos pacientes.
Nota-se que a adição ao trabalho se associa a fatores multidimensionais. As evidências acerca do workaholism entre os enfermeiros são importantes para nortear a promoção da saúde ocupacional, com intuito de melhorar a saúde mental, a qualidade de vida, a satisfação e o desempenho no trabalho e, por conseguinte, a qualidade da assistência de enfermagem prestada, além de identificar possíveis lacunas a serem investigadas sobre a temática.
A análise crítica e detalhada sobre os fatores associados ao workaholism é imprescindível para a ampliação do entendimento sobre os aspectos inerentes à adição ao trabalho. Além disso, essas evidências poderão contribuir para nortear os gestores em saúde no planejamento de estratégias preventivas direcionadas à construção de comportamentos protetores à saúde mental dos trabalhadores nos contextos laborais.
A partir do exposto, este estudo tem como objetivo sintetizar as principais evidências científicas disponíveis sobre os fatores associados ao workaholism na saúde mental de enfermeiros.