Fatores Associados ao Workaholism na Saúde Mental de Enfermeiros

12 de agosto de 2024 por filipesoaresImprimir Imprimir

Sintetiza as principais evidências científicas disponíveis sobre os fatores associados ao workaholism na saúde mental de enfermeiros.


workaholism é uma expressão americana utilizada para designar o vício em trabalho, também conhecida como adição ao trabalho, ela faz referência à dependência psicopatológica do indivíduo em relação às suas atividades de trabalho, estando entre as principais causas de adoecimento físico e mental em trabalhadores. Esse fenômeno se desenvolve progressivamente e se manifesta por meio de condutas laborais que atingem aspectos diversos, principalmente os relacionados às demandas social, ocupacional e de saúde.

Ansiedade e Estresse em Profissionais de Enfermagem

Foto: Divulgação.

Na caracterização do estado de adição ao trabalho, duas importantes dimensões de avaliação são delimitadas: trabalho excessivo e compulsivo. O trabalho excessivo está associado à dimensão comportamental e refere-se à conduta aditiva de trabalhar excessivamente por um período extenso de horas, além de apresentar dificuldade em se desvincular do trabalho em momentos de descanso ou férias e envolver-se em múltiplos projetos simultâneos. O trabalho compulsivo está relacionado à dimensão cognitiva e associa-se à pressão interna cognitiva, crenças e pensamentos correlacionados ao trabalho que levam aos comportamentos e atitudes de compulsão.

workaholism também é associado ao prazer e à satisfação laboral. Entretanto, essa correlação vem sendo questionada e modificada em decorrência do adoecimento mental e de manifestações somáticas provocadas pelo vício em trabalho. Outras nuances comportamentais relacionadas ao trabalho podem ser confundidas com o workaholism. O engajamento no trabalho, por exemplo, também se associa a cargas horárias excessivas e ao extenso envolvimento com as atividades laborais. No entanto, diferentemente da adição, o engajamento interliga-se a um desempenho satisfatório no trabalho em conjunto com sentimentos de empoderamento, afeto positivo e qualidade em saúde.

Entende-se que as circunstâncias e as motivações associadas ao workaholism pertencem a uma complexidade de fatores multidimensionais, nos quais podem ser incluídos: oscilação ou falta de autoestima, sentimento de inferioridade, medo do fracasso, desejo de realização, exigências organizacionais acentuadas e pressão social, devido à valorização constante de alta produtividade e desempenho.

Os workaholics ou “viciados em trabalho”, ao desempenharem suas funções de forma excessiva e compulsiva, abdicam de momentos de descanso, lazer e/ou de interações sociais com cônjuges, familiares e amigos. Todavia, apesar da intensa dedicação ao trabalho, geralmente não conseguem atingir a performance desejada em decorrência do aumento da vulnerabilidade à incapacidade laborativa e dos impactos na saúde biopsicossocial provocados pelo workaholism.

Apesar desse fenômeno apresentar ampla prevalência em categorias profissionais diversas, como 42,1% entre engenheiros, 44,9% entre médicos e 58,3% entre treinadores esportivos, nota-se o tropismo acentuado entre workaholism e enfermeiros. Esses trabalhadores estão expostos a situações e eventos que podem levar a comportamentos disfuncionais e ampliar os riscos à dependência no trabalho.

Enfermeiros lidam diariamente com demandas que envolvem a proximidade com pacientes e familiares, exigindo um domínio de habilidades interpessoais, empatia e compaixão. As exigências pelo desenvolvimento efetivo dessas competências em conjunto com a elevada carga e demanda de trabalho (superior a 40 horas semanais) podem desencadear repercussões negativas à saúde desses profissionais, com o aumento do esgotamento psicológico ( Burnout ), estresse traumático secundário e workaholism.

Comportamentos aditivos entre enfermeiros e seus fatores associados permitem um delineamento explicativo da dimensão dessa problemática. Tais indicativos e considerações revelam a expressiva relação entre o workaholism e as alterações no bem-estar físico e psicológico do enfermeiro.

Estudos de prevalência estimam taxas médias entre 13,77% e 37% de enfermeiros workaholics . Aos enfermeiros workaholics , associam-se agravos de saúde físicos e mentais, como dificuldades para dormir e/ou manter-se acordado durante o trabalho, quadros de depressão leve a moderada e implicações negativas na interação social, familiar e na qualidade da assistência prestada aos pacientes.

Nota-se que a adição ao trabalho se associa a fatores multidimensionais. As evidências acerca do workaholism entre os enfermeiros são importantes para nortear a promoção da saúde ocupacional, com intuito de melhorar a saúde mental, a qualidade de vida, a satisfação e o desempenho no trabalho e, por conseguinte, a qualidade da assistência de enfermagem prestada, além de identificar possíveis lacunas a serem investigadas sobre a temática.

A análise crítica e detalhada sobre os fatores associados ao workaholism é imprescindível para a ampliação do entendimento sobre os aspectos inerentes à adição ao trabalho. Além disso, essas evidências poderão contribuir para nortear os gestores em saúde no planejamento de estratégias preventivas direcionadas à construção de comportamentos protetores à saúde mental dos trabalhadores nos contextos laborais.

A partir do exposto, este estudo tem como objetivo sintetizar as principais evidências científicas disponíveis sobre os fatores associados ao workaholism na saúde mental de enfermeiros.

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