Ao menos 63 mil mortes por câncer que ocorrem no Brasil por ano poderiam ser evitadas com a adoção de hábitos saudáveis. Também seria possível evitar 114 mil novos casos da doença, o que corresponde a 27% dos registros anuais. Foi o que constatou um estudo do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e da Universidade de Harvard publicado no periódico científico Cancer Epidemiology.
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“Existe um consenso que tabagismo, álcool, sedentarismo, obesidade e má alimentação estão relacionados com 20 tipos de câncer. Sabendo desses fatores de risco, usamos bancos de dados do IBGE para ver como é a distribuição deles na população.
Da Pesquisa Nacional de Saúde, de 2013, foram coletadas informações sobre a prevalência de tabagismo, o Índice de Massa Corporal (IMC), uso de bebidas alcoólicas, consumo de frutas e hortaliças. A partir da Pesquisa Nacional de Orçamentos Familiares de 2008 e 2009, foi possível mapear o consumo de fibras, carne vermelha, carne processada e cálcio pela população.
“Com esse conjunto de dados e cálculos estatístico, chegamos a quantos casos e mortes conseguiríamos evitar. A gente não conseguiria evitar um número tão grande com algum exame de detecção precoce. É possível reduzir os casos de câncer de colo de útero com a vacina do HPV. Posteriormente é possível reduzir os cânceres de próstata e de mama com exames. Mas principalmente o estilo de vida saudável pode reduzir vários tipos de câncer.
O estudo apontou ainda que a incidência de câncer de pulmão, laringe, orofaringe, esôfago, colón e de reto poderia cair pela metade com a eliminação dos fatores de risco avaliados pelos pesquisadores.
A pesquisa também avaliou o impacto na diminuição dos fatores de risco e encontrou que seria possível evitar 19.731 casos (4,5% do total) e 11.480 mortes (6,1%).
“Esperamos que esse resultado seja utilizado não para promover medo nem criminalização individual para fatores de risco. Mas como um convite para os gestores de políticas públicas para a regulamentação do marketing de alimentos processados.”
Rezende diz que o Brasil pode ser considerado um case de sucesso no controle do tabaco e que a experiência pode ser adotada em outras campanhas.
Como resultado da sua cura de um câncer de mama descoberto no final de 2015, a economista Sílvia Helena Madi Pinheiro, de 50 anos, resolveu mudar seus hábitos. A alimentação se tornou sobretudo mais saudável e a atividade física passou a ser considerada parte do tratamento.
“Quando eu fui fazer a minha primeira consulta com a oncologista, ela perguntou o que eu fazia e falei que era totalmente sedentária. Naquele momento, fiz um pacto que não seria mais sedentária e faria exercício como remédio.”
Hoje, acorda às 5h30 e prática ioga e pilates. Ela também buscou influenciar a família a ter bons hábitos. “Tenho quatro irmãos e nove sobrinhos. Falei para todo mundo ir para a academia, para ninguém ficar parado.”
Rafael Kaliks, médico oncologista clínico do Hospital Israelita Albert Einstein e diretor científico do Instituto Oncoguia, diz que a mudança de hábitos também é importante para o paciente com câncer.
Esses fatores podem trazer um pior resultado no tratamento de cânceres. Semelhantemente ao tratamento com hormonioterapia para câncer de mama em mulheres obesas. Além disso, segundo Kaliks, esses hábitos podem causar outras doenças, como hipertensão e diabete, que também interferem no tratamento.
Fonte: [1]