Disponibilização do Cloridrato de Hidroxocobalamina Para o Tratamento de Intoxicações Por Cianeto no Âmbito da Assistência Farmacêutica

3 de fevereiro de 2022 por filipesoaresImprimir Imprimir

Sobre o manejo, o armazenamento, a importância da intervenção em tempo hábil com a correta administração e quaisquer particularidades na utilização da hidroxocobalamina na intoxicação por cianeto.


Entre as 13 vitaminas essenciais para o funcionamento do organismo humano, destaca-se o grupo das cobalaminas, que são popularmente conhecidas como vitamina B12. As cobalaminas estão relacionadas a vários processos, entre eles: os processos de maturação dos eritrócitos, função neural, síntese do ácido desoxirribonucleico (DNA), síntese e reparo de mielina, síntese de nucleotídeos de purina, o metabolismo de alguns aminoácidos e o desenvolvimento fisiológico adequado.

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A descoberta das cobalaminas, a elucidação de seu papel no metabolismo, os efeitos e o tratamento de sua deficiência ocorreram em fases distintas do século XX. Dois prêmios Nobel estão relacionados com essas moléculas: o primeiro prêmio Nobel (1934), na categoria de fisiologia e medicina, foi atribuído a Minot e Murphy, pela valiosa contribuição de relatórios e estudos sobre a vitamina B12, que possibilitaram a identificação clínica e o tratamento da anemia perniciosa; o segundo prêmio Nobel (1964), na categoria de química, foi agraciado a Dorothy Hodgkin, pela resolução da estrutura química da vitamina B12 por cristalografia de raios-X.

Nas cobalaminas provenientes de fontes naturais, dependendo do radical químico (-R), podem ser encontradas a cianocobalamina (-CN), hidroxocobalamina (-OH), a aquocobalamina (-H2O), a metilcobalamina (-CH3) ou a adenosilcobalamina (5’desoxiadenosil), dando origem a estruturas químicas correspondentes a vitamina B12. Dessas, a metilcobalamina (-CH3) e a adenosilcobalamina (-5’desoxiadenosil) são as formas que atuam como coenzimas nas reações metabólicas. Outras formas, incluindo nitrocobalamina/nitrosocobalamina (-NO2/NO), sulfitocobalamina (-SO3) e glutationilcobalamina (-GS), também foram descritas, porém o papel delas ainda não é conhecido completamente.

Cloridrato de Hidroxocobalamina

Todas as cobalaminas pertencem à família dos corrinoides, pois compartilham, em sua estrutura, um anel químico, especificamente de corrina, com quatro grupos pirrol, contendo um átomo central de cobalto (Co). Entre todas as variedades de cobalaminas, destacam-se a hidroxocobalamina (vitamina B12a) e a cianocobalamina, uma vez que apresentam uma forma estável e são utilizadas com finalidade terapêutica, como a sua utilização nas intervenções de intoxicações por cianeto.

Historicamente, desde 1679, o cianeto teve seus efeitos tóxicos em seres vivos documentados e descritos. Em algumas situações, se não houver interferência eficaz e em tempo hábil, esses efeitos podem levar o paciente ao óbito. A introdução do cianeto no organismo pode ocorrer por uma ou mais vias, como respiratória, cutânea ou digestiva. Uma vez internalizado, o cianeto interage com moléculas essenciais para o desempenho das atividades fisiológicas, tornando-se um alvo para a regulação de potenciais exposições nocivas à saúde.

No âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), a hidroxocobalamina, na concentração de 5 g, administrada de forma injetável como antídoto para o tratamento de intoxicações por cianeto, teve a incorporação recomendada na 40ª reunião da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) e regulamentada pela Portaria n.º 9 – SCTIE/MS, de 28 de janeiro de 2016.

O Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) de uso da hidroxocobalamina na intoxicação aguda por cianeto teve suas orientações publicadas na Portaria n.º 1.115 – SAS/MS, de 19 de outubro de 2015.

Dedicar esforços na disseminação do conhecimento sobre a importância da utilização desse medicamento em tempo hábil para as vítimas desse tipo de intoxicação é um desafio da saúde pública nos diversos níveis e precisa apresentar-se de forma estruturada sistematicamente em todos os níveis de gestão, federal, estadual e municipal.

Evidenciamos que não há artifícios que possibilitem a previsão de acidentes que necessitem da intervenção por intoxicação de cianeto, demonstrando que uma característica da sua utilização é a imprevisibilidade.

Motivados pela importância desse antídoto, e em busca de delinear as oportunas orientações, o Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos (DAF) e a Coordenação-Geral de Assistência Farmacêutica e Medicamentos Estratégicos (CGAFME) almeja que este documento guie e facilite o entendimento por parte dos usuários e dos gestores sobre o manejo, o armazenamento, a importância da intervenção em tempo hábil com a correta administração e quaisquer particularidades na utilização da hidroxocobalamina na intoxicação por cianeto.

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