Tese sobre corporeidade e o cuidado no processo formativo das alunas do curso de Enfermagem.
O cuidado na enfermagem é concebido como ação que envolve o ser humano na sua totalidade. Para cuidar é necessário o encontro, dialogar, ouvir, tocar, calar, ensinar, respeitar e compartilhar experiências.
A construção desta tese ensaia metáforas inspiradas no labirinto do minotauro, em busca do fio de Ariadne para alinhavar uma colcha de retalhos, a qual problematiza e traça a corporeidade e o cuidado no processo formativo das alunas do curso de enfermagem e suas dimensões estético-afetivas, com a intenção de situar os significados constitutivos das relações ser-cuidado-corporeidade.
O bordado começa com uma questão de pesquisa: como a corporeidade e o cuidado se constituem no processo formativo das alunas do curso de enfermagem? Os pontos que adornam tal percurso nascem do auto olhar-se da pesquisadora, ao assumir as perspectivas e narrativas dos estudos pós críticos, a partir do referencial de Michel Maffesoli e Michel Foucault. Com o primeiro me alinhei às noções da pós-modernidade, querendo compreender o sentido das metáforas, o uso das imagens e o imaginal. Com o segundo, as relações do saber-poder, noções de cuidado e o cenário do hospital. No contexto da escolha metodológica sigo com uma etnografia nômade, com os adereços dos estudos culturais.
Para compor os sujeitos da pesquisa elenquei as alunas do curso de enfermagem de uma Universidade Pública Federal, de diferentes fases, docentes supervisoras do campo de prática hospitalar e alunas egressas (enfermeiras) da primeira turma do curso, totalizando treze participantes.
Como fonte documental utilizei a matriz curricular do curso, que está em fase de reconstrução. As imersões contínuas em campo se deram com as rodas de conversas, encontros agendados e diálogos informais, apoiados em algumas questões de pesquisa registradas no meu diário de campo, alimentadas pela observação participante dos/nos espaços do labirinto hospitalar. Boa parte das conversas e observações ocorreu durante as práticas hospitalares, no período de março a junho de 2015, além de outras informações coletadas ao longo de 2014. Para as alunas, as narrativas que se destacam referem-se ao processo formativo, que segundo elas, não aborda de maneira mais efetiva o cotidiano da profissão. Ressaltam que as necessidades e exigências são inúmeras, levando ao sentimento de fragilidade e despreparo para lidar com as tarefas excessivas, com a demanda dos pacientes e as atribuições administrativas. Assim, contam que a entrada no labirinto é inevitável, mas quase sempre imperceptível, pois são envolvidas na ordem das tarefas cotidianizada. A rotina das tarefas consome a afetividade no encontro com o outro ser- cuidado, mas ao mesmo tempo, a tarefa compartilhada na equipe de enfermagem permite que as diferentes tribos se alinhem e configurem rotas de fuga, assegurando um processo de cuidado qualificado.
Esta pesquisa possibilitou a vivência do espaço hospitalar, trazendo à tona os aspectos do cotidiano da enfermagem, suas experiências no encontro com o paciente e a afetividade implícita no cuidado, bem como as potências envoltas nesse percurso e as possibilidades no processo de formação da enfermeira.