Conhecimento Sobre Cuidados de Enfermagem Em Pessoas Com Tuberculose Drogarresistente na Atenção Primária à Saúde

22 de outubro de 2024 por filipesoaresImprimir Imprimir

Identifica, em contexto prático, os conhecimentos de enfermeiros da atenção primária à saúde sobre os cuidados com pessoas em tratamento de tuberculose drogarresistente.


A Tuberculose Drogarresistente (TBDR) é definida quando o microrganismo Mycobacterium tuberculosis apresenta resistência a pelo menos uma das drogas de primeira linha usadas no tratamento da Tuberculose (TB) sensível. Atualmente, a TBDR é considerada uma ameaça global no controle da TB, e um grande problema de saúde pública em vários países.

mulher branca tossindo colocando a mão na boca.

Foto: Governo do Estado do Ceará.

No Brasil, a TBDR é classificada em: monorresistência, quando a resistência é somente a um fármaco; resistência à rifampicina (TB-RR), quando a resistência à rifampicina é identificada exclusivamente por meio do Teste Rápido Molecular para Tuberculose (TRM-TB), ainda que sem realização do teste de sensibilidade, e sem outras resistências conhecidas; polirresistência, quando há resistência a dois ou mais fármacos, exceto a rifampicina (R) e isoniazida (H), que, neste caso, é considerada como tuberculose multirresistente (TB-MDR); e tuberculose extensivamente resistente (TB-XDR), que, além da resistência à R e H, é acrescida a resistência a qualquer uma das fluoroquinolonas e à linezolida ou à bedaquilina.

Estudos mostram que o percentual de casos de TBDR vem crescendo ao longo dos anos em diversos países, incluindo o Brasil, com maior acometimento de indivíduos do sexo masculino, na faixa etária economicamente ativa, e com padrão de resistência a mais de uma droga. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), houve globalmente uma estimativa de 450.000 casos incidentes em 2021, um aumento de 3,1% em relação aos 437.000 casos em 2020. A principal explicação para esse aumento foi o impacto da pandemia de COVID-19, ocasionando uma grande queda global no número de pessoas diagnosticadas e tratadas com TB e TB-DR, devido à redução do acesso ao diagnóstico e tratamento dessa doença.
Mundialmente, as taxas de detecção de casos e de sucesso no tratamento para TBDR são menores que nos casos de TB sensível. No Brasil, apenas 53,2% de casos de TBDR completaram o tratamento com sucesso, enquanto cerca de 22,9% interromperam o tratamento, e 8,0% foram a óbito. Esses resultados de tratamento abaixo do ideal são um risco potencial para o desenvolvimento e a disseminação de mais resistência ao tratamento da TB.
Para lidar com este cenário, é preciso melhorar o acesso das pessoas com TBDR aos serviços ambulatoriais, compartilhando os cuidados essenciais da atenção secundária e terciária com a Atenção Primária à Saúde (APS), que fica mais próxima do usuário. Algumas estratégias de cuidados estão sendo adotadas para aumentar a adesão ao tratamento, como a aproximação do cuidado às pessoas com TBDR, fornecimento de esquemas de tratamento orais e com menor tempo de tratamento, e fortalecimento da Atenção Primária à Saúde (APS).
No Brasil, em 5 de outubro de 2021, foi lançada a Nota Informativa Nº 9/2021-CGDR/DCCI/SVS/MS, que dispõe sobre atualização do tratamento da TB RR, MDR e XDR, dando preferência a esquemas de tratamento orais com duração mais curta, de seis meses, em relação ao tratamento anterior, com medicamentos orais e injetáveis combinados, que poderia chegar a 18 meses ou mais. Essa atualização possibilita maior cuidado e acompanhamento do tratamento das pessoas com TBDR pela APS, fortalecendo o Tratamento Diretamente Observado (TDO), e aumentando a adesão e a taxa de cura.
Diante desse novo modelo de cuidado, estudos nacionais e internacionais revelam que, ao fornecer um novo modelo de tratamento baseado na comunidade e centrado no paciente com TBDR na APS, há necessidade de Educação Permanente em Saúde (EPS) dos profissionais, incluindo os enfermeiros que são líderes da equipe e estão mais próximos desses usuários, realizando a gestão do cuidado de enfermagem.
O Ministério da Saúde (MS) do Brasil destaca o papel do enfermeiro nos cuidados às pessoas com TB-DR na APS, ao lançar, em 2022, o protocolo de tratamento da TB para os enfermeiros, com as recomendações relacionadas à assistência à TB-DR. Consta, nesse protocolo, a realização da consulta de enfermagem, o planejamento, gerenciamento, coordenação e avaliação das ações desenvolvidas, contribuição e participação nas atividades de EPS para a prevenção, manejo do TDO, ações de vigilância epidemiológica e controle da doença.
Assim, a EPS sobre TBDR na APS deve abordar as necessidades de conhecimento desses profissionais por meio de treinamento, utilizando tecnologias que atendam seu contexto prático. Diante do aumento dos casos de TBDR, do novo modelo de tratamento sendo implantado, e da necessidade do fortalecimento da APS, esta pesquisa justifica-se com objetivo de identificar, em contexto prático, os conhecimentos de enfermeiros da atenção primária à saúde sobre os cuidados com pessoas em tratamento de tuberculose drogarresistente.
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