Reflete sobre o ritual do luto e o culto ao morto durante o funeral no contexto da pandemia da COVID-19.
A magnitude e a amplitude epidêmica da COVID-19 e a elevada mortalidade, motivou a “proliferação de angústia e de incertezas em torno da pandemia que nos atravessa e atinge como humanidade. Estamos cercados e imersos em mortes em escala local, regional, nacional e global. Vivenciamos e buscamos produzir significados para essa ameaça silenciosa, indeterminada e generalizada, que incita medos”.
Apesar de toda uma modificação social demandada pela pandemia, com a adoção de medidas não farmacológicas, a exemplo do isolamento e distanciamento social, a COVID-19 está ceifando vidas, destruindo sonhos e mutilando sentimentos, famílias e redes de amizades. Tanto que, ao final de junho de 2020 o mundo contabilizava 504.345 vidas perdidas por conta da COVID 19. Quanto ao total de óbitos, o Brasil ocupa a incômoda segunda posição (58.385 mortes), atrás apenas dos Estados Unidos da América (EUA).
Compreendemos que as pessoas que vivenciam o luto, necessitam de alternativas de suporte, que podem ser desenvolvidas por meio de espaços sociais que possibilitem a expressão de sentimentos e a troca de experiências relacionados ao processo de perda, na tentativa de processá-lo simbolicamente, para enfrentá-lo e assim, retomar a vida cotidiana com êxito. É fato de que a “morte é concebida como parte de um processo, mas de um processo lógico, um espaço acessível ao ser humano”, que deixa marcas consoantes a um determinado momento ou por toda a vida dos que ficam.
Durante a vivência de um luto, as dores e o sofrimento são intensos, expressos quase sempre por sentimentos como tristeza, medo, culpa, ansiedade, solidão e saudade. Tais sentimentos podem se manifestar de diversas formas e em tempos diferentes para cada sujeito enlutado, uma vez que o luto é um processo dinâmico, particular e multidimensional, o qual pode causar impacto direto nas relações consigo mesmo, com a sociedade e o mundo. Lidar com o luto, significa proporcionar o enfrentamento de sentimentos evocados pela perda e a nova realidade que se impõe, além de estratégias de evitar a dor, voltando-se para a retomada da vida.