Relata a vivência profissional de enfermeiros na implantação do apoio matricial de Enfermagem no cuidado à pessoa com ferida na Atenção Primária à Saúde.
O cuidado à pessoa com ferida é algo intrínseco ao trabalho da Enfermagem, historicamente agregado à sua prática diária desde que a profissão existe. As feridas, em especial as crônicas, acometem 5% da população adulta no mundo ocidental, são causas de morbimortalidade que resultam em prejuízo da qualidade de vida e insustentável sobrecarga econômica para os serviços de saúde – configurando-se em problema de saúde pública.
Pela complexidade do plano terapêutico é essencial uma abordagem multidisciplinar, no entanto, o enfermeiro desempenha papel significativo neste contexto de cuidado que vai além da realização de curativo, pois atende a pessoa na sua totalidade, avalia e acompanha a evolução das feridas no domicílio e nas mais diferentes esferas dos serviços de saúde.
O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) por meio da Resolução 567/2018 regulamenta e amplia a atuação do enfermeiro nessa área, sendo responsável por avaliar, prescrever e executar cuidados à pessoa com ferida, bem como coordenar e supervisionar a equipe de enfermagem em ações de promoção da saúde, prevenção, tratamento e reabilitação. Para isso, lança mão do uso de recursos e novas tecnologias que irão impactar positivamente a vida das pessoas com lesões cutâneas e seus familiares.
Nesse universo de cuidado, o município de Florianópolis – Santa Catarina (SC) criou em 2010 o Centro de Referência no Cuidado de Pessoas com Feridas e Estomias, qualificado como serviço ambulatorial de média complexidade, que tinha como premissa atender todos os munícipes. Entretanto, o acesso ficava limitado aos moradores das imediações devido à localização geográfica distante dos bairros que compõem a região da Ilha, impedimento clínico, dificuldade de transporte ou restrições financeiras. Tal realidade, remetia a reflexões sobre a fragilidade de acesso, haja vista que muitos usuários residiam a mais de 30 km do serviço.
Diante da problemática, a Secretaria de Saúde do município, motivada por uma necessidade de ampliar o acesso; descentralizar o serviço; e proporcionar novas tecnologias em saúde, reestruturou o modelo de atendimento do serviço formatado através do Apoio Matricial de Enfermagem no Cuidado à Pessoa com Ferida (AMECPF).
O apoio matricial ou matriciamento surgiu como uma das estratégias da Política Nacional de Humanização do Sistema Único de Saúde (SUS), para produzir uma nova maneira de lidar com a singularidade das pessoas atendidas na Atenção Primária à Saúde (APS). Dessa forma, favorece a troca de informações, amplia a produção de saúde, e ainda personaliza os sistemas de referência e contrarreferência, ou seja, na prática se constitui como a estruturação da rede de saúde por meio do fortalecimento das relações entre os profissionais e outros atores sociais, incluindo usuários e gestores.
A relevância do tema e o potencial de replicabilidade em outros cenários da prática justifica a divulgação desta proposta de assistência de Enfermagem. Assim, objetiva-se relatar a vivência profissional de enfermeiros na implantação do Apoio Matricial como iniciativa inovadora no cuidado à pessoa com ferida no âmbito da APS.