Adesão ao Tratamento Para Lesão Crônica no Cenário de Ensaio Clínico

5 de agosto de 2022 por filipesoaresImprimir Imprimir

Compreende a adesão ao tratamento de pessoas com lesões crônicas, no cenário de um ensaio clínico.


A adesão ao tratamento de feridas crônicas mostra-se uma questão complexa para a compreensão e o manejo pelos profissionais de saúde, especialmente enfermeiros, nos serviços de referência. O sucesso da terapia proposta, o controle e a prevenção de doença crônica, e o alcance da cura dependem do acesso da população aos serviços, e, sobretudo, adesão do paciente aos procedimentos ou terapias propostas. Porém, a adesão pode ser difícil, por razões individuais e coletivas.

Aspectos como condições clínicas e expectativas construídas com a equipe de saúde, condições materiais e econômicas, sociais e culturais, de acesso e utilização dos serviços de saúde, além dos aspectos psicossociais, como os modos de pensar o corpo, a doença, o tratamento, emoções, sofrimentos e expectativas sobre a vida, podem ser definidores da adesão. No caso de um tratamento, proposto em pesquisa clínica, pergunta-se em que condições a adesão ocorre ou não, quando se trata de pessoas com úlceras venosas ou pé diabético, especialmente nas pesquisas clínicas em que o tratamento se configura, para o paciente, como uma nova possibilidade de cura.

Adesão ao Tratamento Para Lesão Crônica no Cenário de Ensaio Clínico

Adesão ao Tratamento Para Lesão Crônica no Cenário de Ensaio Clínico. Foto: Divulgação.

Objetivo: Compreender a adesão ao tratamento de pessoas com lesões crônicas, no cenário de um ensaio clínico. Metodologia: Esta pesquisa constituiu o eixo qualitativo do projeto maior nomeado “Ensaio Clínico de Fase II da Ação Cicatrizante Cutânea de Fração Proteolítica do Látex de Vasconcellea Cundinamarcensis”. Para esta pesquisa, foram realizadas entrevistas individuais abertas e em profundidade com 15 usuários de serviços de referência para tratamento de feridas, públicos e privado, no município de Belo Horizonte.

O método de análise dos dados foi o de Análise Estrutural de Narração (AEN). Resultados e Discussão: A interpretação do conjunto dos dados qualitativos revelou quatro categorias centrais: 1) Representações presentes e construídas nas experiências vivenciadas no percurso do tratamento de feridas, 2) Adesão aos tratamentos para lesão crônica, 3) Representações sobre a relação dos profissionais de saúde com os pacientes e 4) Motivação para participação em pesquisa clínica e em outros tratamentos para lesões crônicas. Houve distinção entre os entrevistados, tanto nos aspectos socioeconômicos quanto nos psicossociais, reafirmando que o processo é multifacetado. O baixo nível de escolaridade e de renda está presente e relacionado às dificuldades para compreensão do processo saúde–doença–cuidado. Há negação da gravidade da ferida no início da lesão, dificultando a busca imediata do tratamento. Há desconhecimento sobre a relação da ferida com outros comprometimentos da saúde, sendo os primeiros cuidados realizados, em geral, por meio de práticas caseiras. Dores intensas que prejudicam as atividades produtivas no trabalho e no lar levam à procura de serviços de saúde. Os entrevistados definem o tratamento para ferida crônica como “difícil” e “longo”, acrescido de dificuldades pela pouca comunicação, vaidades dos profissionais e escassez de vínculos, que interferem na adesão ao tratamento. Na fase da pesquisa clínica, a adesão foi integral. Todos disseram que iam ao serviço porque eram bem cuidados e tinham esperança no tratamento. Os resultados mostraram a importância da resiliência, que se explicitou, ao final, como uma categoria teórica que engloba trajetórias de tratamentos e adesão.

Conclusões: A adesão revela-se um jogo entre objetividade e subjetividade que inclui as relações dos profissionais com as pessoas com feridas crônicas, e não é adquirida para sempre. Deve ser pensada no contexto de construção contínua de resiliência, compreendida como um processo contextualizado, pessoal e social, a ser apoiado com clareza e cuidados pelos profissionais de saúde, especialmente os enfermeiros dos serviços de atenção primária e de referência de tratamento de feridas crônicas.

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