Abordagem de Saúde Sexual por Enfermeiras no Contexto da Atenção Primária à Saúde

29 de maio de 2023 por filipesoaresImprimir Imprimir

Identifica a percepção da(o)s enfermeira(o)s das ESF sobre as necessidades e problemas relativos à saúde sexual dos usuários e como abordam essas demandas.


O direito à saúde sexual foi uma conquista histórica da humanidade. Entre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, na Agenda 2030 da ONU, está o acesso universal aos serviços de assistência à saúde sexual e reprodutiva. Para atingir tal objetivo, a Atenção Primária à Saúde (APS) tem reconhecido papel. Entretanto, outras publicações descrevem que as ações ofertadas na APS se concentram, quase sempre, nas demandas reprodutivas, ficando invisibilizadas as demandas sexuais ou restritas à abordagem das Infecções Sexualmente Transmissíveis.

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As enfermeiras, como parte das Equipes de Saúde da Família (ESF) e corresponsáveis pela coordenação do acolhimento e gestão do cuidado na APS, devem contemplar a saúde sexual nos seus atendimentos. Entretanto, estudos mostram dificuldades dessas profissionais em abordar a sexualidade em suas rotinas de cuidado. Objetivos: 1)Conhecer as necessidades e problemas relacionados à saúde sexual dos usuários da APS do município de Belo Horizonte, segundo os próprios usuários; 2)Identificar a percepção da(o)s enfermeira(o)s das ESF sobre as necessidades e problemas relativos à saúde sexual dos usuários e como abordam essas demandas; 3)Conhecer o cenário atual do município em relação às necessidades e problemas dos usuários e a abordagem da saúde sexual adotada pelas(os) enfermeiras(os) das ESF, a partir da integração de dados quantitativos e qualitativos.

Trata-se de um estudo de métodos mistos do tipo paralelo convergente. A abordagem qualitativa, baseada na Teoria dos Roteiros Sexuais de John Gagnon e realizada por meio da entrevista em profundidade, teve prioridade no estudo. Analisamos os discursos dos participantes por meio da Análise Estrutural da Narrativa. A amostra foi composta por 22 participantes, sendo 13 usuários e nove enfermeiras. As enfermeiras foram definidas por sorteio, sendo uma de cada distrito do município. Os usuários foram definidos parte por sorteio e parte por bola de neve, necessária para garantir maior diversidade de gênero entre os participantes. A abordagem quantitativa consistiu em pesquisa transversal descritiva feita por meio de formulários on-line, distribuídos aos enfermeiros das ESF do município por meio de grupos de WhatsApp e e-mails dos centros de saúde de Belo Horizonte. A população final do estudo foi de 210 enfermeiras(os), que correspondeu a 35,7% do total de enfermeiras(os) de ESF do município. A análise se deu por meio do cálculo de proporções e teste qui-quadrado de Pearson com nível de significância de 5%.

As necessidades e problemas relativos à saúde sexual dos usuários da APS estruturam-se em dimensões culturais, interpessoais e intrapsíquicas e dizem respeito à vivência dos relacionamentos e do prazer num contexto de machismo e desigualdade de gênero, permeada pelo tabu que ainda contribui para o silenciamento da intimidade das pessoas. Isso pode resultar em sofrimentos de ordem emocional e/ou adaptações da vida de forma a não priorizar o prazer sexual. Na maioria das vezes, essas necessidades não são percebidas pelos profissionais de saúde em seus atendimentos, uma vez que suas abordagens priorizam o modelo biologicista sobre o corpo e a vida dos usuários. Entre os 91,4% das(os) enfermeiras(os) entrevistados no estudo quantitativo que afirmaram abordar a saúde sexual nos atendimentos, 48,7% o fazem poucas vezes. Segundo 75,1% das(os) enfermeiras(os), os usuários têm poucas demandas, o que pode garantir certa comodidade ao se manter o enfoque nos sintomas e queixas físicas, perpetuando a invisibilidade da sexualidade dos indivíduos. Houve convergência dos resultados encontrados nos diferentes métodos.

A saúde sexual deve ser compreendida e inserida nas ações da APS visando atingir a integralidade na assistência. Reconhecer a importância dos roteiros sexuais para o cuidado, principalmente quando são disfuncionais para a vida dos usuários, e agir, contribuindo para que eles possam construir novos roteiros que lhes permitam acessar uma vida sexual saudável, deve ser parte da abordagem à saúde com enfoque na educação sexual. Nesse sentido, é urgente o investimento em formação dos profissionais da APS para instrumentalizá-los para a abordagem à saúde sexual.

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