Johns Hopkins é considerada uma das instituições acadêmicas de pesquisa mais importantes do mundo e se alinha entre as universidades de maior prestígio dos Estados Unidos. A holandesa Wilma Berends, que atua nos programas mundiais de excelência da instituição, esteve em Porto Alegre para participar de simpósio no Hospital Moinhos de Vento, e citou a Enfermagem como a protagonista nos hospitais.
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Por mais que disponha de atendimento humanizado, conforto e equipamentos de alta tecnologia, o hospital é um ambiente indesejado. Para tornar a internação menos desagradável para pacientes e familiares, enfermeiros são peça-chave na rotina hospitalar. Afinal, apenas eles mantêm contato direto, sete dias por semana com o internado. Para treinar e empoderar esses profissionais, o Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre. Promoveu no começo do mês o 5º Simpósio Internacional de Enfermagem.
Nos dois dias de evento, passaram pela instituição cerca 750 profissionais. Uma das palestrantes foi a enfermeira holandesa radicada nos Estados Unidos Wilma Berends. Que soma anos de experiência de trabalho em unidades de terapia intensiva pediátricas e no serviço de cardiologia. Desde 2015, lidera o setor de enfermagem da Johns Hopkins Medicine International, programa mundial de parcerias da Johns Hopkins School of Medicine. Ela falou sobre as tendências da área e as chamadas “conversas difíceis”.
Sua palestra abordou as conversas difíceis no ambiente hospitalar, como quando a atitude de um enfermeiro ou de um médico precisa ser repreendida. Qual é a importância delas?
Elas servem para todo mundo se dar conta de que a segurança do paciente deve ser o ponto de partida. Ao ir para o trabalho, toda a equipe deve ter isso como principal objetivo. E para se dar conta disso, é preciso ter certas conversas. Elas podem ser difíceis e duras.
Elas podem abordar as habilidades técnicas das pessoas e seus comportamentos. Contudo, são fundamentais, pois vão impactar na segurança do paciente.
Essas conversas podem ser “fáceis” quando se identifica uma falha na habilidade técnica. Aí se diz: “Isso deveria ter feito assim e você não fez”. Ou outro exemplo: uma pessoa chega atrasada todos os dias ou três vezes por semana. Aí é muito fácil, é preto no branco. Mas falar sobre comportamentos é muito difícil. Se uma pessoa não age bem e começa a gritar com outra. É desde já preciso reagir e lidar com isso. Há pesquisas que mostram que leva seis horas para uma pessoa superar um xingamento ou grito. Então, isso fica reverberando na cabeça dela e ela precisa medicar um paciente mesmo chateada, o que pode levar a erros. Há regras e expectativas de comportamentos que devem ser seguidos. Todo mundo tem que ser tratado da mesma forma. Não importa se você é o cirurgião cardíaco que leva US$ 3 milhões para o hospital por ano ou não.
Há um monte de tecnologia atualmente. Tecnologia para tudo. No passado, havia um alarme no paciente, você tinha que ir até o quarto para vê-lo. Agora, você só olha o seu telefone e descobre qual tipo de alarme soou. Então, há novas tecnologias com as quais todo mundo deve se acostumar.
Outra tendência é que as enfermeiras estão sendo vistas como uma profissão autônoma, elas não são mais apenas uma extensão dos médicos. Elas não fazem apenas o que os médicos dizem, mas têm suas próprias mentes, podem pensar criticamente muito bem. Podem definitivamente tomar conta dos pacientes. Enfermeiros constituem o maior contingente de uma profissão dentro de um hospital. Eles são as únicas que estão com os pacientes 24 horas por dia, todos os dias. Dessa forma existe muita ênfase agora na excelência de enfermagem. Há reconhecimentos de excelência difíceis de obter nos Estados Unidos. Fora dos EUA, somente oito hospitais têm, nenhum deles na América Latina. O Hospital Moinhos de Vento será o primeiro a contar com essa distinção.
Advogar pelo paciente, garantir que o cuidado que ele está recebendo é seguro e de alta qualidade e que ele está recebendo a atenção de que ele precisa e quer. Do mesmo modo se deve incluir o paciente como um membro do time de cuidadores. Os pacientes e as famílias também, especialmente na pediatria. Tanto o paciente quanto a família deve ter uma voz para ser ouvida.
Adultos podem advogar a seu favor. Por outro lado com as crianças, é muito difícil para os pais terem que deixá-los no hospital, porque eles são vulneráveis e não podem falar por si, principalmente quando são pequenos. Então, na pediatria é especialmente importante que o paciente esteja seguro.
Nos EUA, há uma tendência grande de preparo. Além da faculdade, de quatro anos, muitos profissionais têm mestrado e se especializam em áreas específicas, como os médicos especialistas no Brasil, por exemplo. Também há os chamados “providers” que podem prescrever, sob tutela de um médico. Eles têm um papel bem autônomo.
Fonte: [1]