A pandemia afeta todos nós em algum grau, e atinge com intensidade particular profissionais de saúde. Com longas jornadas, dificuldades de comunicação, pacientes que não param de chegar e obstáculos que nem imaginamos, estar na linha de frente impacta diretamente no emocional. Neste especial, conversamos com trabalhadores de diferentes áreas desse setor para entender como a Covid-19 está interferindo na saúde mental dos profissionais da saúde.
Poucas vezes a gente visualiza um médico, enfermeiro ou outro profissional de saúde no momento em que eles têm sob seus cuidados não pessoas sorridentes, mas pacientes em estado crítico. “Eu acho que deveria ser mais reforçada esse tipo de diálogo”, fala a doutora Viviane Avelino Silva, médica infectologista, professora da Faculdade de Medicina do Einstein e da Faculdade de Medicina da USP, “para que a gente pudesse trabalhar mais especialmente no aspecto de como lidar com conflitos e como lidar com situações de perda. Na nossa profissão são coisas sempre muito comuns, a gente já tá preparado para paciente grave, mas não são tão ruins como a gente tá vivendo nessa pandemia.”
A pessoa que já teve gripe reconhece aquele quadro geral como tosse seca, aquela fadiga que te derruba e deixa de cama. Às vezes aparece também dor de garganta, dor de cabeça e uma quebradeira que é o nome que a gente dá para aquelas dores pelo corpo todo e parece que atinge todas as juntas, mas a partir daí acabou a semelhança.
Covid-19 tem outros sintomas menos frequentes que começam a diferenciar bastante da gripe. Existem registros de pessoas que apresentaram diarreia, erupções na pele, descoloração dos dedos e perda do paladar e do olfato, mas o principal perigo no coronavírus acontece no trato respiratório. Familiares amigos e pacientes com Covid-19 fariam tudo para poder ver seus entes queridos: máscara com óculos, com uma barreira de vidro que fosse. Mas nem assim eles podem. Auxiliar e encontrar possibilidades desse contato se torna outra tarefa para quem está na linha de frente. Muitas vezes recorrendo a celulares e pedindo para o paciente passar o número para gente poder ligar, para ele poder conversar com a família. A gente tem que colocar no viva voz por conta da segurança e ficar mais distante para o paciente poder falar. Então você acaba ouvindo as conversas: filhos conversando com os pais, pais conversando com os filhos, desejando que melhore o mais rápido possível, fazendo orações. Às vezes a gente tem risada junto.
Quem já teve um parente ou amigo internado em estado crítico já deve saber como são os estágios finais. O médico reúne as pessoas, informa que não tem mais nada que possa ser feito e organiza as despedidas. Por causa da Covid 19. Essas despedidas ali ao pé do leito não existem. Outro fator que abala muitos os profissionais e que a gente não pode atuar diretamente, é o fato de ver as pessoas com negacionismo. Sem acreditar que a coisa é tão grave, sem acreditar na responsabilidade delas como potencial vetor disseminador do vírus na comunidade.