Uso da Posição Canguru em Domicílio: Percepção de Mães de Recém-nascidos de Risco

18 de dezembro de 2024 por filipesoaresImprimir Imprimir

Analisa a percepção de mães de crianças nascidas pré-termo e/ou baixo peso quanto ao uso da posição canguru em domicílio.


A posição canguru é uma estratégia de cuidado indicada para crianças nascidas pré-termo, assim como para aquelas de baixo peso ao nascer. É uma das estruturantes do Método Canguru, porém pode ser adotada isoladamente. O uso da posição está reconhecido como uma tecnologia de assistência neonatal de baixo custo e com desfechos relevantes à saúde, sobrevida e ao desenvolvimento da criança, além de favorecer o vínculo pais-criança e a parentalidade. Seu uso, no Brasil, está concentrado no ambiente hospitalar e de modo integrado ao Método Canguru, apesar de ser também recomendada para os tempos após a alta hospitalar.

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O objetivo deste estudo foi o de analisar a percepção de mães de crianças nascidas pré-termo e/ou baixo peso quanto ao uso da posição canguru em domicílio. Tratou-se de uma pesquisa qualitativa, desenvolvida por meio de entrevista não estruturada, sob os referenciais do Interacionismo Simbólico e da Análise Temática. Apresenta-se a análise de entrevistas junto as 10 mulheres, mães de crianças nascidas prematuras e/ou baixo peso, que incorporaram o uso da posição canguru no cotidiano por, no mínimo, uma hora por dia. Todas as mulheres residiam na região centro-leste do estado de São Paulo. Os temas ‘Espera apreensiva para cuidar da criança’ , ‘Arranjos e sentimentos no uso da posição canguru’ e ‘Serviços de saúde e a fé’ organizaram a apresentação dos resultados analíticos obtidos. Eles revelaram que, a partir da descoberta de ser a gestação de alto risco medos e angústias relacionadas ao desfecho instauram-se. Historias prévias de perdas gestacionais de crianças vividas anteriormente são rememoradas. O nascimento da criança promove alegria e alívio, com crescente esforço em prover o melhor cuidado à sua criança. A posição canguru é concebida como estratégia de cuidado própria para a condição da criança, entendimento que sustenta sua opção pelo uso.

Foram apresentadas as interações sociais, sobretudo ao longo dos tempos vividos na internação da criança, que levaram as mulheres a questionarem sobre suas competências para cuidar da criança, assim como imputaram sentimentos que, no conjunto, trazem apreensão para a assunção desse cuidado. No alojamento conjunto não há tematização da posição canguru, enquanto que na unidade neonatal este esteve presente. Ao longo da prática da posição canguru em domicílio notou-se os benefícios, com destaque ao empoderamento e segurança para o cuidado e a promoção da inserção do companheiro/pai da criança no mesmo. Para ocorrer o uso ajustes no cotidiano familiar foi um diferencial ter o suporte da rede de atenção básica, fazendo toda a diferença na efetividade do cuidado pareteral e no uso da posição canguru. Porém, foi incipiente a proximidade dos profissionais/serviços de saúde da atenção básica a essas mulheres que demonstraram o desejo do apoio. O suporte profissional, neste contexto, assinalou fragilidades quanto a consideração da posição canguru no cuidado a essas mulheres, crianças e famílias, desde os tempos de pré-natal.

A enfermagem esteve mencionada na unidade neonatal e na pessoa de enfermeiras visitadoras, com indicativas de ser premente ampliar e qualificar sua presença e compromissos no suporte a mulher e família que gesta e cuida de criança nascida pré-termo e/ou de baixo peso. A passagem pelo periodo pueperal foi descrita como solitária e sofrida, quando o profissional pode ser um diferencial na promoção e alcance de conforto e satisfação a essas mulheres. O uso da posição canguru efetivou-se como um propulsor do alcance do senso de satisfação e segurança no cuidado à criança em domicílio.

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