Análise de depoimentos de profissionais da saúde e autoridades públicas, para conhecer potencialidades e fragilidades vivenciadas por ocasião da tragédia Kiss.
Em diferentes épocas e diferentes lugares do mundo, registraram-se grandes e inesquecíveis tragédias, que imprimem marcas profundas na vida de pessoas, famílias e/ou comunidades. No Brasil, destacam-se tragédias, como em 1961, em Niterói, Rio de Janeiro, quando no incêndio do “Gran Circo Norte-Americano”, 503 pessoas morreram, sendo sete crianças em cada dez mortos. Outra tragédia ocasionada por incêndio ocorreu em São Paulo, no edifício Andraus, provocando 16 mortes e 330 feridos. Dois anos depois, em 1974, outro incêndio, também em São Paulo, matou 188 pessoas e deixou 345 feridas.
Já em 1976, em Porto Alegre, 41 pessoas morreram e mais de 60 ficaram feridas, em incêndio de prédio comercial; no Rio de Janeiro, em 1986, outro incêndio em prédio comercial vitimou 23 pessoas, com mais de 40 feridas. Em 2000, doze crianças entre dois e quatro anos morreram quando um aquecedor incendiou uma creche em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul. No Canecão Mineiro, em Belo Horizonte, incêndio provocado por queima de fogos, resultando na morte de sete pessoas, e cerca de 300 feridos.
Nesse estudo, no entanto. O foco de análise será a tragédia da Boate Kiss, ocorrida em 27 de janeiro de 2013, na cidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil. Decorrente de incêndio, provocado por efeitos pirotécnicos durante apresentações musicais, vitimando 242 pessoas e outras centenas feridas, predominantemente estudantes universitários. O fogo iniciou por volta das duas horas, na espuma do isolamento acústico do teto, alastrando-se rapidamente, devido ao material inflamável que produziu fumaça preta e tóxica.
Devido à inalação da fumaça. Resultante da combustão incompleta de produtos. Houve lesão inalatória, seguida de processo inflamatório das vias aéreas superiores e inferiores, causando obstrução e bronco espasmo nas vítimas. Pois o processo inalatório evoluiu rapidamente para insuficiência respiratória, edema e infecção pulmonar, o principal responsável pelas mortes, decorrente de intoxicação sistêmica, associada a queimaduras pelo corpo. A lesão inalatória relacionada à extensão da queimadura aumentou em torno de 20% os óbitos. A intoxicação ocorreu, mais especificamente, por monóxido de carbono (cianeto), causando tosse e queimaduras na região retroesternal. Logo, a organização e a atuação da rede de saúde local e regional foram essenciais para evitar uma catástrofe ainda maior.