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Teoria da Mudança Para Implementação de Apoio Matricial em Saúde Mental
5 de outubro de 2023 por filipesoares Imprimir
Descreve o processo de elaboração da theory of change para implementação do Apoio Matricial.
Propostas de cuidado compartilhado e colaborativo, semelhantes ao Apoio Matricial (AM) têm sido reconhecidas como boas práticas na assistência em saúde mental em todo o mundo. Desde a década de 90 surgiu um arcabouço substancial de evidências para cuidados colaborativos. Mais de 90 ensaios clínicos randomizados e diversos estudos com meta-análises demonstraram que o modelo de cuidado colaborativo é mais eficaz do que o tratamento usual para pacientes com depressão, ansiedade e outras condições comportamentais de saúde. Paralelamente, no Brasil, o AM se insere, dentre outras dimensões, como uma metodologia que busca superar a fragmentação do cuidado em saúde mental através da corresponsabilização da equipe interdisciplinar que compõe a rede através da comunicação constante e deliberação conjunta.
Foto: Divulgação
Após mais de dez anos de sua incorporação por meio dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família, uma série de desafios continua atravessando a efetiva implementação dos arranjos de AM em municípios de todo o país. Entre esses desafios, destaca-se as subjetividades dos trabalhadores, falta de delineamentos claros para o desenvolvimento dos processos de trabalho como o compartilhamento de casos, deficiências nos sistemas de referência e contrarreferência e a baixa articulação intersetorial com pouca utilização dos recursos comunitários são os principais desafios apontados na literatura. Por implicar na necessidade de reorganização nos diversos níveis e serviços que compõem a Rede de Atenção Psicossocial (
RAPS), a implementação do AM se constitui enquanto uma intervenção complexa em saúde, caracterizada por englobar componentes capazes de atuar de forma individual e/ou conjunta: recursos, condições de trabalho, clima organizacional, trabalhadores e usuários. Articular e sustentar essa mobilização é um desafio que se estende desde o delineamento da intervenção até sua fase de avaliação.
Como passo fundamental para que esses processos sejam bem sucedidos, é fundamental entender como a intervenção se relaciona com os diversos componentes do sistema para produzir seu efeito, sendo necessária assim uma abordagem sistêmica, que contemple a perspectiva dos diversos atores envolvidos em sua execução.
Nesse sentido, a elaboração participativa da Theory of Change (
ToC) em intervenções complexas em saúde tem sido apontada na literatura como uma maneira efetiva de planejar e avaliar essas intervenções. Sua utilização para esse fim, já foi documentada em pelo menos 49 intervenções conduzidas no campo da Saúde Pública, área na qual foi capaz de informar o processo de implementação, desenvolvimento de indicadores, delineamento do processo avaliativo e de análise dos dados.
Trata-se de uma abordagem que busca representar como, por que, e em que medida os resultados podem ser esperados enquanto produtos da intervenção. Dessa forma, corresponde a uma articulação formal e explícita dos pressupostos que sustentam a lógica e a concepção de uma intervenção.
O objetivo dessa representação é nomear os resultados intermediários e a articulação destes com cadeias causais. Essas, por sua vez, direcionam a relação entre os resultados intermediários e evidenciam como eles levam aos resultados distais. Entre os resultados intermediários, destaca-se as intervenções (estratégias que objetivam integrar a intervenção no sistema); justificativa teórica (evidência que sugere uma abordagem específica para o contexto); componentes externos (condições externas para que o resultado intermediários seja alcançado) e indicadores vinculados aos resultados esperados (métricas que permitirão identificar mudanças e suas proporções). A literatura internacional aponta diversos estudos que utilizam a ToC na área de saúde mental, inclusive em países com contextos similares ao brasileiro.
Diante do exposto, o presente estudo tem o objetivo de descrever o processo de elaboração da ToC para implementação do Apoio Matricial em um município paulista de médio porte e refletir sobre contribuições dessa abordagem para o planejamento e avaliação dessa intervenção considerando as potencialidades e desafios a partir de sua execução no formato remoto.