Por meio de procedimentos estéticos, profissionais de enfermagem ajudam pacientes a resgatarem a autoestima.
A enfermagem estética esteve sob os holofotes nos últimos anos por conta de questões regulatórias. No entanto, desde a publicação da Resolução Cofen nº 626/2020, há uma clareza maior sobre o rol de procedimentos que podem ser feitos pelo enfermeiro que trabalha nessa área – segundo a norma, ele pode executar tudo o que não seja definido por lei como privativo do médico.
Em setembro, as Câmaras Técnicas do Coren-SP criaram um Grupo de Trabalho (GT) de enfermagem estética, coordenado pela conselheira Ivany Baptista. Hoje, essa especialização profissional se consolida como um dos campos mais atraentes para o enfermeiro que deseja empreender e abrir seu próprio consultório.
“Acho que é uma área que tem crescido muito. O enfermeiro é um profissional que desenvolve muitos procedimentos de alta complexidade e tem aprendizados na graduação que permitem realizar certos procedimentos com segurança. Nós nos baseamos na Sistematização da Assistência de Enfermagem, avaliamos, elaboramos diagnóstico e provemos uma assistência diferenciada e segura ao paciente que nos procura”, coloca a conselheira Ivany, que é professora e especialista em enfermagem dermatológica.
A estética é uma área na qual os profissionais de nível médio também participam, como explica Ivany. “Os técnicos e auxiliares trabalham sob supervisão do enfermeiro e só não podem realizar alguns procedimentos como carboxiterapia, cosméticos e eletroterapia, por exemplo”.
Um aspecto muito importante é que a enfermagem estética é uma especialização regulamentada — ou seja, para atuar na área, o enfermeiro precisa de alguns requisitos mínimos, como elenca Ivany: “Essa é uma questão muito importante. É necessário ter pós-graduação com os requisitos mínimos solicitados pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo menos 100 horas de prática na área para receber o título de enfermeiro esteticista”.
A profissional Natália Augusto Rodrigues Bortolotti se formou em enfermagem em 2008 e desde 2015 trabalha com estética. Atualmente ela tem uma clínica na zona sul de São Paulo, em sociedade com outros profissionais. Alguns dos procedimentos mais realizados em sua clínica são a harmonização facial, a aplicação de botox e preenchedores.
Além de realizar atendimentos em sua clínica, Natália usa sua experiência de empreendedora para prestar consultoria para outros enfermeiros que desejam abrir seu próprio negócio. “Nós que já passamos por esse processo, conseguimos dar essa consultoria para quem deseja empreender. O enfermeiro consegue então ter essa base de como fazer fluxo de caixa, como abrir empresa, e tudo o que se relaciona a isso”.
Um ponto importante de sua atuação profissional é o impacto na autoestima e na saúde psicológica dos pacientes. Natália afirma já ter passado por um autoquestionamento quanto à relevância de sua atuação, que foi superado quando ela percebeu a influência da estética: “Percebi que após um tratamento estético, o paciente se sente mais empoderado, com sua autoestima renovada. Isso pode mudar a forma de ele agir e de se portar na vida e até dar a ele um incentivo para começar a correr atrás dos seus objetivos financeiros, de relacionamento, de saúde, de trabalho. Há toda uma questão psicológica por trás da estética e, quando entendi que a partir dela o paciente poderia virar a chave e dar a volta por cima, isso me motivou porque encontrei um sentido em trabalhar nessa área. Isso me deu coragem para chegar até aqui”.
Outro dilema enfrentado pelos profissionais da área estética é o preconceito que precisam enfrentar por serem profissionais autônomos. “Infelizmente sofro com isso praticamente todos os dias. Quem deseja começar nessa área precisa estar bem preparado para receber questionamentos como: ‘mas enfermeiro pode fazer isso?’”, desabafa Natália.
Esse preconceito provém muitas vezes de outros profissionais da área da saúde. “É uma questão cultural. Quando nós nos posicionamos como profissionais da saúde em primeiro lugar, com conhecimento técnico-científico, conseguimos nos defender e mostrar para as pessoas quem somos como profissionais. Dentro de uma seringa há anos de estudo, anos de trabalho e de dedicação. Nós, que estamos na linha de frente da enfermagem estética, estamos plantando uma semente que as futuras gerações colherão”, conclui.
O texto da Resolução Cofen nº 626/2020 é claro quanto aos procedimentos estéticos que o enfermeiro habilitado pode realizar:
§ 1º O Enfermeiro habilitado, nos termos do art. 4º da Resolução Cofen nº 529/2016, poderá realizar os seguintes procedimentos na área da estética:
– Carboxiterapia
– Cosméticos
– Cosmecêuticos
– Dermo pigmentação
– Drenagem linfática
– Eletroterapia/Eletrotermofototerapia
– Terapia Combinada de ultrassom e Micro Correntes
– Micro pigmentação
– Ultrassom Cavitacional
– Vacuoterapia”
§ 2º Realizar as demais atividades de Enfermagem estética não relacionadas à prática de atos médicos previstos na Lei 12.842/2013.