Analisa a intensidade de sintomas depressivos entre gestantes soropositivas e soronegativas para o Vírus da Imunodeficiência Humana.
A gestação é um período complexo da vida da mulher, caracterizado por alterações fisiológicas, psíquicas, emocionais e sociais. Essas transformações podem intensificar expectativas devido ao momento vivenciado além de sentimentos de dúvida, medo e insegurança, o que pode tornar a gestante mais suscetível ao desenvolvimento ou exacerbação de transtornos mentais.
Estima-se que cerca de 10 a 15% das mulheres vivenciam um episódio depressivo durante a gravidez. A depressão é uma condição patológica marcada por aversão às atividades comumente realizadas, distúrbios do sono ou apetite e irritabilidade, repercutindo no comportamento, saúde e relacionamentos interpessoais do indivíduo. Adicionalmente, os sintomas depressivos estão associados a desfechos materno fetais adversos, com destaque para a pré-eclâmpsia e o parto prematuro.
Por conseguinte, se essas mulheres já são acometidas pelas mudanças ditas fisiológicas e normais pré-existentes do ciclo gravídico, a literatura evidencia que uma gestação que envolve a infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) pode perpassar por cenários ainda mais propícios ao desencadeamento de sintomas depressivos.
No Brasil, o último boletim epidemiológico apontou que de 2000 até junho de 2019 foram notificadas 125.144 gestantes infectadas pelo HIV, sendo as regiões Sudeste (38,1%), Sul (30%) e Nordeste (17,7%) as que concentram maior percentual. A taxa de detecção encontra-se em curva de crescimento nos últimos anos e isso se dá, especialmente, pelo fato do pré-natal incluir a testagem para o HIV entre os exames solicitados, sendo fundamental acompanhar a mulher não apenas em seu aspecto biologicista, mas, também, psicológico.
Nesse sentido, a gestação no contexto do HIV é permeada por particularidades que englobam desde a conduta terapêutica, conflitos internos vivenciados e até estigmatização social. Em mulheres recém-diagnosticadas com o HIV, principalmente, ainda existe a associação da experiência da gravidez ao receio de transmitir o vírus à criança, sentimento de culpa, medo do preconceito e instabilidade emocional, o que pode tornar esse grupo vulnerável aos agravos à saúde mental.
Alguns estudos reportaram que pessoas vivendo com HIV/Aids possuem prevalência elevada de depressão quando comparada à população geral, no entanto, as pesquisas com enfoque nas gestantes com HIV ainda são incipientes no Brasil. Como a própria gestação já é considerada um fator de risco para o aparecimento desse transtorno, é indispensável rastrear a sintomatologia depressiva tanto em gestantes soropositivas quanto em gestantes soronegativas, uma vez que estas enfrentam alterações importantes no período gestacional e que podem repercutir diretamente na vida das mesmas.
Esta investigação torna-se relevante pois permite identificar os possíveis sintomas depressivos durante o período pré-natal, fornecendo subsídios para os profissionais de saúde atuarem no direcionamento do cuidado dessa população.
Dessa maneira, este estudo foi motivado pelo interesse em responder à seguinte questão norteadora: existe diferença entre a frequência e o nível de sintomas depressivos entre mulheres soropositivas e soronegativas para o HIV? Sendo assim, o objetivo foi analisar a intensidade de sintomas depressivos entre gestantes soropositivas e soronegativas para o HIV.