Compreende os sentidos da categoria trabalho humanizado, tal como ela é mobilizada por enfermeiras que atuam em UTI.
Esta pesquisa tem o objetivo de compreender os sentidos da categoria trabalho humanizado, tal como ela é mobilizada por enfermeiras que atuam em unidades de terapia intensiva (UTI) de Campinas-SP e região metropolitana. Durante as entrevistas ficou evidente que aquilo que as equipes de enfermagem nomeavam como “trabalho humanizado” e “humanização” é aquilo que nomeamos sociologicamente como “trabalho emocional”, o que permitiu revelar as ricas relações sociais presentes no trabalho humanizado e, portanto, emocional.
Tomamos como hipótese, a partir da pesquisa realizada no pré-campo, que a categoria “trabalho humanizado” é acionada pelas enfermeiras para dar visibilidade ao trabalho emocional, que segundo a literatura especializada aponta, é constitutivo do seu trabalho e se soma às competências e habilidades consideradas como mais técnicas. Se estas envolvem atos tais como a troca de curativos e administração de medicamentos, o trabalho emocional se relaciona com as atitudes das enfermeiras em relação aos pacientes e à família, marcadas pela atenção, empatia, desvelo, produção de confiança e paciência.
Aponta-se que a ausência de confiança na relação das enfermeiras com pacientes e família pode, por exemplo, aumentar a carga de trabalho sentida por elas. À luz dessas questões, procurei compreender de forma mais aprofundada de que maneira o trabalho emocional é realizado pela equipe de enfermagem e como esta mobiliza a categoria de “trabalho humanizado” para denotar as práticas profissionais de cuidado. As UTI’s foram escolhidas como espaço de pesquisa, pois ali os pacientes, por seu estado de alta gravidade, necessitam de atenção direta e constante, fazendo deste um espaço de grande tensão afetiva, onde se destaca o trabalho emocional. Realizei entrevistas com as enfermeiras fora de seu espaço de trabalho e por meios virtuais (como whatsapp e e mail) e análise dos materiais sobre trabalho humanizado disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde.
A pesquisa de campo foi realizada em meio à pandemia da COVID-19, que alterou dinâmicas laborais, estendendo jornadas e aumentando cargas de trabalho. Os equipamentos de proteção individual (EPIs) imprescindíveis para prevenir o contágio – dificultavam a habitual linguagem não verbal destas com os(as) pacientes, levando a que se renovassem as formas de realização do trabalho emocional/humanizado. Ademais, sendo o principal elo possível entre familiares e pacientes, acumularam o apoio psíquico aos pacientes.
Atenção especial foi dada na pesquisa à complexa e contraditória disputa narrativa sob os corpos e significados do trabalho durante a pandemia: as(os) profissionais de enfermagem, por vezes vistos como heróis, não raro viram-se expulsos de espaços públicos tomados como possíveis veículos de contágio.