Descreve o olhar de profissionais de Enfermagem em relação à saúde do homem na atenção básica.
A saúde do homem passou muito tempo imperceptível ao olhar de gestores e dos profissionais que prestam cuidados nos serviços de saúde. A razão dessa invisibilidade foi motivada, principalmente, por aspectos culturais ao considerar os indivíduos do sexo masculino como um grupo sem muitas necessidades de saúde, que justificassem serem incluídos nos grupos prioritários de cuidados de saúde. Mesmo com os avanços recentes, ainda há uma carência de estratégias que vinculem os homens às Unidades Básicas de Saúde (UBS) e que impulsionem a serem mais participativos nos cuidados de saúde, especialmente, em ações de promoção de saúde e prevenção de agravos e adoecimento.
Frente aos impasses da sociedade brasileira, é possível destacar a construção da masculinidade em uma sociedade patriarcal, onde a pessoa do sexo masculino, sinônimo de força e resistência, é “imune” ao adoecimento, o que gera significados preconcebidos ao acesso nos serviços ofertados na Atenção Primária à Saúde (APS). Desta feita, a procura destes serviços é considerado somente a mulheres, idosos e crianças, o que vem ocasionando uma dificuldade dos homens em buscar a assistência em saúde, e consequente aumento de índices de doenças crônicas não transmissíveis, e por vezes, transmissíveis.
Ressalta-se que neste estudo as expressões Atenção Básica e Atenção Primária são usadas como sinônimos, sendo usado um ou o outro conforme as formas de citação dos estudos primários. Faz se necessário, portanto, considerar os indivíduos do sexo masculino como seres vulneráveis ao adoecimento em face do contexto sociocultural onde estes se inserem, devendo incrementar o potencial de protagonismo do homem nos cuidados de saúde. Assim, é primordial para que ocorra uma atenção de qualidade em saúde, considerar o homem um ser biopsicossocial, sendo observada a personalidade masculina, comportamentos e fatores culturais, nos quais se encontram uma diversidade de contextos sociais envolvidos.
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) foi instituída pelo Ministério da Saúde (MS), por meio da Portaria GM/MS nº 1.944/2009, tendo por finalidade promover a melhoria das condições de saúde da população masculina, favorecendo a redução da morbimortalidade. No entanto, a execução da PNAISH ainda é vista como frágil nos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS), pois seu reconhecimento ainda é insatisfatório por parte do público que abrange.
A busca dos homens pelos serviços de saúde é realizada, quase sempre, por meio de complicações maiores de uma determinada condição patológica, o que desencadeia maiores problemas de saúde e gastos que poderiam ser evitados por meio dos métodos de promoção e prevenção em saúde. É notória a dificuldade de trabalhar com a prevenção do adoecimento do homem na APS, principalmente pela maior procura por serviços de média e alta complexidade.
Este estudo justificou-se por serem os profissionais da enfermagem numericamente superiores às demais categorias nos cenários de cuidados básicos, sendo responsáveis por atividades de educação em saúde para a prevenção do adoecimento e promoção da saúde, com potencial para mudanças de posturas no que tange ao acesso aos serviços de saúde. Acrescenta-se a exiguidade de pesquisas versando sobre as percepções desses profissionais acerca da temática em tela. Destarte, acredita-se que os profissionais da equipe de enfermagem, como educadores, podem valer-se das práticas de educação em saúde para reconhecer e elencar os impasses e as estratégias para reduzir as resistências dos homens na busca do cuidado à saúde.
Diante deste cenário, objetivou-se descrever o olhar de profissionais de enfermagem da Atenção Primária à Saúde em relação à saúde do homem.