Analisa a representação das enfermeiras retratadas pela mídia brasileira no contexto que antecede a pandemia de Covid-19 e as mudanças nessas representações a partir da crise pandêmica.
A enfermagem carrega uma imagem estereotipada perante a sociedade, fundamentada na história e evolução da profissão. O preconceito e discriminação que permeiam a representação da profissão carregam marcas das desigualdades de gênero, refletindo na vida das mulheres, que segundo dados de 2020 do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), compõem 85% do quadro dessa categoria profissional.
Historicamente, a enfermagem é majoritariamente composta por mulheres, e durante muito tempo houve restrição da participação dos homens. Além disso, a história da enfermagem permite um entendimento da origem de todos os estereótipos que insistem em marcar a classe profissional. Segundo Colpo, Camargo e Mattos: A identidade profissional das ‘mulheres enfermeiras’ encontra-se oscilando entre a caricatura do anjo branco (sagrado – cristão) e a prostituta (lado profano). Deste modo, a enfermeira permanece com uma imagem moralmente frágil, que tem sido ‘ameaçada’ pelas piadas e dissimulações do senso comum ou da publicidade.
No início do século XVI com a Reforma Protestante, muitas cuidadoras religiosas foram expulsas dos hospitais, obrigando estas instituições a contratarem mulheres concebidas por aquela sociedade como seres com idoneidade moral contestável, sendo elas prostitutas, analfabetas e etilistas, já que exigiam baixo dispêndio por não terem qualificação profissional.
Estas explanações influenciam a dualidade que configura a imagem das enfermeiras, cujas heranças perduram até os dias atuais. Além disso, as desigualdades de gênero e a divisão sexual do trabalho são marcas deixadas nos caminhos percorridos pela profissão até aqui. A soma de todos estes aspectos, refletem diretamente na representação que a grande mídia dissemina para seus espectadores.
Os conteúdos veiculados pelas mídias influenciam sobremaneira a formação de opinião dos indivíduos e têm o grande poder de estereotipar e estigmatizar pessoas e profissões. Tratando-se das enfermeiras, repercute de maneira absolutamente negativa na relação profissional/paciente.
Os veículos de comunicação sempre divulgaram informações incoerentes com relação a atuação das enfermeiras, divulgando uma imagem erotizada das mesmas, advinda principalmente das telenovelas.
Lamentavelmente, as representações das enfermeiras na mídia sempre foram depreciativas e improcedentes, pois sempre as retrataram como subordinadas à área médica, invisibilizadas socialmente e com conotação de uma profissão de baixo status.
No ano de 2020, pôde-se presenciar significativa manifestação de homenagens à enfermagem pelas diversas mídias, além de aplausos nas janelas e sacadas de casas e prédios de todos os cantos do Brasil, devido a pandemia da Covid-19 que se alastrou pelo mundo.
A palavra enfermagem ganhou visibilidade em todos os noticiários dos veículos de imprensa e segundo Moreira et al.: “As matérias sobre a Enfermagem no contexto da COVID-19 foram ganhando mais espaço, em volume de publicações, um mês após a identificação do primeiro caso no Brasil”, que ocorreu em 26 de fevereiro de 2020, importado da Itália.
Com base no exposto, o presente artigo, parte do questionamento sobre como a pandemia de covid-19 influenciou a representação da enfermagem pela mídia brasileira? Nesse sentido, o objetivo deste artigo é analisar a representação das enfermeiras retratadas pela mídia brasileira no contexto que antecede a pandemia de Covid-19 e se ocorreram mudanças nessas representações a partir da crise pandêmica.