Descreve a sintomatologia depressiva entre pessoas em tratamento da tuberculose em unidades da atenção básica em saúde.
O estado de sofrimento psíquico dado pela depressão afeta significativamente a capacidade funcional do indivíduo, através de sintomas que englobam a variação do humor, anedonia, alteração do apetite e sono, agitação ou retardo psicomotor, fadiga, sentimento de inutilidade, dificuldade de concentração e ideação suicida. Tal quadro psicopatológico pode afetar negativamente o desfecho da tuberculose (TB) com abandono do tratamento, resistência medicamentosa, propagação da transmissão e morte.
Isoladamente, a depressão é encontrada em 4,4% da população mundial, em 9,7% brasileiros adultos e pode alcançar 50% entre pacientes em tratamento de TB. Como doença transmissível global, a TB está entre as 10 principais causas de morte, com disseminação e controle preocupante, devido a padrões invariavelmente ligados às condições socioeconômicas e à estrutura do sistema de saúde. O Brasil está entre países de alta carga da doença tendo 2,2 óbitos/100 mil habitantes e coeficiente de incidência 37,4 casos/100 mil habitantes em 2019, com queda para 31,6 casos/100 mil habitantes em 2020. No estado do Espírito Santo (ES) foram registrados 1.129 casos novos e 1,8 óbitos/100 mil habitantes em 2019.
Neste cenário acrescenta-se o impacto da atual pandemia de COVID 19, iniciada em 2020, mesmo ano do primeiro marco para alcance da meta da Organização Mundial de Saúde de eliminação da TB, possivelmente afetada por implicações sobre o diagnóstico e tratamento oportuno. Conduto, permanece a meta do Plano Nacional pelo Fim da TB, de reduzir para menos de 10 casos de TB e menos de 1 óbito/100 mil habitantes até 2035. Para tanto, é fundamental a intervenção baseada nos cuidados e prevenção, integrados e centrados no paciente adoecido por TB, explorando dimensões subjetivas do adoecer, considerando o indivíduo como único, fragilizado por aspectos psicossociais e emocionais envolvidos no processo de adoecer e no cotidiano assistencial do tratamento. Assim, é importante ampliar o escopo das práticas realizadas na Atenção Primária à Saúde (APS), durante a terapia antituberculosa, visando identificação e intervenção precoce para diminuir a sobrecarga da depressão.
Entretanto, a relação sindêmica entre TB e depressão, além de potencializar estes sérios problemas de saúde pública é pouco explorada no Brasil, a despeito da magnitude no campo da saúde global e agenda 2030, visando acabar com a epidemia de TB e promover a saúde mental e bem-estar. Este contexto exige melhores práticas para efetivar os atributos primordiais da APS, em cuidado holístico aos usuários do Sistema Único de Saúde.
Portanto, é relevante entender melhor a sobrecarga da depressão em pessoas com TB, especialmente em municípios de mesma região, de alta carga da doença, conhecendo elementos característicos que possam embasar as práticas de cuidados primários no controle da TB e na integralidade do cuidado a pessoa. Desta forma, este estudo tem o objetivo de descrever a sintomatologia depressiva entre pessoas em tratamento da tuberculose em unidades básicas de saúde (UBS).