Reflete acerca dos aplausos dirigidos aos profissionais de Enfermagem na “linha de frente” do combate à COVID-19.
Por muito tempo, a Enfermagem passou despercebida na sociedade. Raramente somos citados em jornais, revistas e noticiários diversos quando algo absurdo acomete nosso lado psicológico ou físico, e essa divulgação raramente acontece. Os estudos apontam que aproximadamente 90% dos profissionais de saúde já sofreram agressão física, psicológica ou assédio durante a jornada profissional. O contexto de trabalho desses profissionais é marcado por sofrimentos, mortes, ritmos de trabalho exaustivos e baixos salários, tendo agora como agravante dessa situação a pandemia por coronavírus.
Hoje o mundo para. Diante da pandemia por COVID-19. Para aplaudir e homenagear os trabalhadores de saúde. Especialmente os da Enfermagem. Considerada vulnerável por estar na linha de frente, por prestar assistência direta aos pacientes hospitalizados com a doença. Frente a essa circunstância, a sociedade os denominou heróis. É apreciável essa terminologia, mas esquecem das condições do ofício desses profissionais no advento da política do neoliberalismo, que objetiva um enxugamento dos recursos materiais e humanos, como também a fragilização das condições no serviço.
Merecem aplausos, sim, quando conseguem improvisar diante de recursos reduzidos; merecem aplausos sim, quando saem correndo pelos corredores para salvar vidas, mas quando essa falta de recursos começa a atingir tanto os profissionais de saúde quanto os pacientes, apenas os aplausos serão suficientes?
Será que somente os aplausos e a denominação de “heróis” servirão para que possam salvar a si mesmos e aos doentes? Será que os aplausos heróicos trarão de volta nossos colegas de trabalho que contraíram COVID-19 e não sobreviveram? Segundo os dados do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), até o dia 06 de maio haviam sido registradas 88 mortes de profissionais de Enfermagem por COVID-19 no Brasil, sendo 40 mil o número em quarentena, contabilizando mais de 4,8 mil denúncias por falta de equipamentos de proteção individual adequado. O presidente do Cofen afirmou em um pronunciamento que “Se nós não tratarmos dos recursos necessários para proteger os pro- fissionais de saúde, vão faltar profissionais para atender a população”.
Este artigo científico tem o objetivo de refletir acerca dos aplausos dirigidos aos profissionais de Enfermagem na “linha de frente” do combate à COVID-19.