Conhece as percepções de pessoas com sequelas pela hanseníase acerca das ações de autocuidado, à luz do seu contexto cultural.
A hanseníase é uma das doenças tropicais negligenciadas com maior risco de gerar incapacidades físicas e deformidades permanentes e, consequentemente, prejuízos na qualidade de vida. Inclusive, se não diagnosticada e tratada precocemente, as sequelas geram prejuízos na capacidade laboral, limitação da vida social e problemas psicológicos.
Além disso, a possibilidade de desenvolver danos neurais e incapacidades físicas continuam mesmo após a alta, sendo recomendado o acompanhamento e a estruturação dos serviços de saúde para implementação de ações de cuidado integral durante e após o tratamento. Ademais, ressalta-se que em torno de 5% das pessoas acometidas são diagnosticadas com incapacidade física de grau 2, evidenciando a necessidade de tais ações.
Dentre as ações de cuidado integral, cabe mencionar as ações de autocuidado apoiado como estratégias para minimizar e/ou prevenir futuras sequelas. O autocuidado apoiado pode ser definido como o apoio necessário para que os usuários se tornem agentes produtores sociais de sua saúde, estando ancorado na técnica dos cinco A’s: avaliação, aconselhamento, acordo, assistência e acompanhamento, sendo que um bom programa de autocuidado se beneficia ao utilizá-los em conjunto.
Essa técnica pode ser aplicada em pessoas com sequelas pela hanseníase, como apoio às ações de autocuidado e a prática dos profissionais. De fato, essas pessoas apresentam hábitos sedentários e limitações físicas, com diminuição da autonomia, sendo necessário o apoio de uma equipe multidisciplinar para intervenções adequadas, a fim de estimular e promover o autocuidado para uma melhor qualidade de vida, desenvolvendo sua autonomia, enquanto protagonistas de suas demandas de saúde.
Nessa perspectiva, utilizou-se como suporte teórico a Teoria de Enfermagem da Diversidade e Universalidade Cultural, que propõe ao enfermeiro planejar com a pessoa os cuidados, preservando as características culturais pessoais e/ou do grupo à qual pertence. Efetivamente, a cultura pode ser entendida como valores, crenças, normas e práticas de vida de um grupo, que são aprendidos e transmitidos de geração em geração, e que norteiam o pensamento e a tomada de decisão, assim, as pessoas são seres culturais, capazes de sobreviver ao tempo, uma vez que possuem a capacidade de prestar cuidado aos outros em vários ambientes e de várias maneiras. Ademais, o cuidado pode ser concebido como um fenômeno ligado ao comportamento da pessoa em prestar ajuda, apoio ou capacitação ao outro com necessidades instaladas no intuito de melhorar a vida ou a condição humana.
Outrossim, no que tange à prática de enfermagem, compreender as pessoas com sequelas pela hanseníase à luz de sua base cultural, permite à enfermagem o entendimento das variações de cuidados prestados a esse grupo. Além disso, é preciso implementar estratégias que minimizem os danos advindos dessa doença milenar, tal como sensibilizar os profissionais de saúde para a importância das ações de autocuidado e/ou autocuidado apoiado para com as pessoas com sequelas pela hanseníase, já que podem apresentar alterações nos âmbitos físico e psíquico, interferindo efetivamente na prática do cuidado de si.
Diante do exposto, emergiu-se o questionamento: quais as percepções das pessoas com sequelas pela hanseníase acerca do autocuidado, sob a ótica de seu universo cultural? De fato, estudar o autocuidado inserido no contexto cultural das pessoas permite, aos enfermeiros, definir prioridades na prestação dos cuidados em saúde, uma vez que o diálogo entre as culturas é essencial para compreender as diferenças de cada pessoa e de sua cultura ao exercerem seu autocuidado. Assim sendo, o estudo tem como objetivo conhecer as percepções de pessoas com sequelas pela hanseníase acerca das ações de autocuidado, à luz de seu contexto cultural.