Percepções de Agentes Comunitários de Saúde Acerca da Violência Doméstica Contra Crianças e Adolescentes

25 de julho de 2024 por filipesoaresImprimir Imprimir

Compreende as percepções de Agentes Comunitários de Saúde sobre violência doméstica contra crianças e adolescentes.


A infância e adolescência são fases marcadas por intenso desenvolvimento físico e cognitivo susceptíveis às alterações do ambiente externo como a violência; que quando presente, pode resultar em problemas socioafetivos e desordens emocionais, impactando negativamente na inserção social do público infantojuvenil. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a violência contra crianças e adolescentes é aquela perpetuada por meio de atos/ações que possam causar danos potencias ou reais à vítima menor de idade.

Foto: Depositphotos.

Segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos sobre violência contra crianças e adolescentes no Brasil, a negligência é o tipo de violência com maior periodicidade entre crianças menores de 10 anos de idade, com 50,1% dos casos; em sequência, 28,6% refere-se à violência física; 28,4% violência sexual e 17,5% violência psicológica/moral. Como possíveis agressores, a figura materna apresentou maior evidência (40,2%). A violência física é a mais presente na faixa etária de 10 a 19 anos, apresentando como agressor um amigo ou conhecido, seguida respectivamente pela violência sexual, psicológica ou moral e abandono.
Dentre as múltiplas formas de violência, a perpetrada em ambiente doméstico apresenta como agravante a frequência com que ocorre, aumentando-se a vulnerabilidade e aspectos negativos à criança, pois é praticada, em diversas vezes, como método educativo de disciplina, sendo incorporada ao seu cotidiano.
As situações de violência doméstica que tem como vítimas crianças e adolescentes apresentam-se como um acontecimento de alta periodicidade e provocam impactos na saúde dessa população. Crianças expostas a períodos prolongados de violência doméstica sofrem mudanças prejudiciais no desenvolvimento cerebral, que passa a ser inundado por medo e ansiedade, prejudicando a aprendizagem e demais áreas do desenvolvimento infantojuvenil, com repercussões a nível mental, transtornos psíquicos, abuso de substâncias, baixa autoestima, distúrbios do sono, ansiedade e até mesmo morte.
Dada a complexidade e gravidade do fenômeno, necessita-se de uma rede de enfrentamento capaz de reduzir sua incidência por meio do fornecimento de serviços e profissionais que atuem na prevenção, proteção e suporte às crianças e adolescentes vitimados, integrando os serviços da educação, saúde, segurança, justiça e área social, além de envolver a comunidade e associações responsáveis. Neste contexto, a Atenção Básica em Saúde, por meio da Estratégia Saúde da Família (ESF), apresenta-se como um dos serviços pertencentes a área da saúde que atua diretamente no enfretamento da violência, sendo responsável pelo contato direto e próximo à população usuária.
Os profissionais que compõem a ESF são protagonistas no combate à violência doméstica, sendo composta minimamente por um enfermeiro(a), médico(a), técnico de enfermagem e Agentes Comunitários de Saúde (ACS); que devem manter vínculo, diálogo e se prontificar à escuta ativa dos possíveis casos de violência de sua área de cobertura, percebe-se que os ACS demonstram características favoráveis ao reconhecimento e enfrentamento da violência doméstica contra crianças e adolescentes, pois compreendem a dinâmica familiar por meio das visitas domiciliares de rotina que potencializam as ações da ESF, e por consequência, auxiliam na identificação das situações de vulnerabilidade à violência, favorecendo o reconhecimento e enfrentamento deste agravo.
Contudo, apesar de serem profissionais indispensáveis, estes podem sentir dificuldades quanto à efetiva atuação frente ao agravo. Estudo realizado com 35 ACS selecionados das ESF de um município da região noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil, evidenciou que ACS apresentam dificuldades no combate aos casos de violência doméstica, havendo necessidade de discussão das situações identificadas e compartilhamento das informações obtidas com demais profissionais da equipe multidisciplinar.
Acredita-se que mesmo diante da posição estratégica, nem todos os profissionais da ESF estão sensibilizados para identificação e acolhimento de vítimas de violência doméstica, uma vez que as condutas centradas e baseadas no modelo biomédico, o qual foca-se no tratamento da doença, dificulta o manejo adequado voltado às crianças e adolescentes vitimados. A literatura internacional orienta estratégias pedagógicas na capacitação da equipe de saúde para o enfrentamento das situações de violência doméstica, embasando-se na reflexão e comunicação em equipe, e que as crenças e experiências sejam compartilhadas e incorporadas em grupo.
Nessa perspectiva, aponta-se que os ACS precisam ser capacitados para compreenderem o fenômeno e possivelmente desmistificar conceitos errôneos, mitos e tabus frente à violência, e para isso, torna-se imprescindível conhecer e compreender as percepções destes sobre a temática em pauta. Portanto, o estudo objetivou compreender as percepções dos ACS sobre violência doméstica contra crianças e adolescentes.
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