A Única Certeza da Morte é a Vida: Investigação Fenomenológica Sobre Idosos que se Preparam para a Morte

21 de agosto de 2018 por filipesoaresImprimir Imprimir


O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial que ganhou destaque nas últimas décadas. Nesse contexto, a morte aparece como questão difícil, pois se trata de um tema tabu na cultura ocidental. À luz da fenomenologia existencial, se refletiu sobre o envelhecer e o morrer em uma época atravessada pela técnica como verdade do ser, em que esses fenômenos são considerados problemas que desencadeiam grande esforço moderno em tentar controlá-los e dominá-los.

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Preparar para a morte

Este projeto teve como objetivo compreender a experiência de idosos longevos que consideram que se prepararam para a morte. Buscou-se investigar o sentido dessa preparação e seus desdobramentos. Foram entrevistados três idosos com mais de 80 anos de idade, residentes da cidade de São Paulo. A reflexão desenvolvida diversificou os significados sobre o envelhecer e o morrer a partir do entendimento singular de como cada um lida e compreende o seu envelhecimento e a sua finitude. Todos os entrevistados discorreram sobre a questão da morte sem resistência, mas foi reconhecida a possibilidade de um falar com um envolvimento mais pessoal.

Esvaziamento de sentido da vida e um desejo de morte

Dentre as diversas questões discutidas, se destaca as noções de corporeidade e de temporalidade, na qual o modo como cada participante se relaciona com o seu ser corporal. O presente e as possibilidades de futuro se mostraram essenciais na forma que compreendem e sentem o ser velho, o significado da morte e o sentido da vida. A depender do contexto existencial, se identificou a possibilidade do esvaziamento de sentido da vida e um desejo de morte. Assim, fomentando a reflexão sobre quantidade de vida não ser sinônimo de qualidade de vida.

Cuidar da vida

Constatou-se diversas iniciativas de preparação para a morte que ocorreram em diferentes âmbitos. Permeando questões financeiras, emocionais, sociais, corporais, materiais e até espirituais. O sentido dessas realizações se desvelou na direção de um cuidar da vida. Pois se mostraram como tentativas de garantir a melhor qualidade na existência. Em relação à vida do próprio idoso até a sua morte, ou de uma possível próxima vida, seja sobre a existência de quem permanece vivo após a morte do idoso. Assim, fica evidente que a única certeza da morte é a vida, ou seja, a morte convoca para o tempo do viver. Entrar em contato com a finitude viabiliza o encontro das possibilidades de vida dignas de serem vividas. Acredita-se que fugir da morte tem consequência se esquivar, também, de uma vida mais própria. Portanto, é essencial falar sobre a morte e o morrer, pois é aberto, ao mesmo tempo, o falar sobre a vida e o viver a melhor vida possível.
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