Masculinidades, Encarceramento e Infecções Sexualmente Transmissíveis: Análise Interseccional do Discurso de Homens em Situação Prisional

6 de novembro de 2024 por filipesoaresImprimir Imprimir

Apreende o entrecruzamento interseccional das masculinidades e do encarceramento junto ao acometimento das Infecções Sexualmente Transmissíveis em homens em situação prisional.


Detentor da terceira maior população prisional no mundo, com mais de 811 mil pessoas presas, o Brasil fica atrás apenas dos Estados Unidos da América (EUA), 2.068.800 pessoas em situação prisional, e da China, com 1.690.000. Além disso, de acordo com Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJeSP), no ano de 2020, a população masculina correspondia a 95% do total de presos, o que revela uma questão problemática para a saúde pública brasileira e global.

Foto: Secretaria da Justiça do Governo do Estado do Espírito Santo.

As informações sociodemográficas e identitárias dos homens em encarceramento ainda são frágeis e inconsistentes. Contudo, achados na literatura têm indicado condições estruturais prisionais precárias, insalubridade e superlotação, que são contrárias à convivência humana, diante do elevado risco de adoecimento decorrente da transmissão de doenças e agravos infecciosos, como ocorre com as Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). Neste sentido, abra espaço para a compreensão das nuances existente entre a saúde sexual e o encarceramento, vivenciado principalmente, pela população masculina, a partir de uma dimensão mais ampliada, face as categorias e marcadores sociais da diferença.
Especificamente em relação à saúde sexual dos homens em encarceramento, a literatura científica tem apontado que a população carcerária, quando comparada à população livre, possui o dobro de chances de adquirir uma IST e desenvolver a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (aids). O encarceramento tem sido associado como fator propício entre detentos para a prática sexual desprotegida, violência sexual, compartilhamento de objetos perfuro-cortantes, uso de drogas injetáveis, realização de tatuagens sem o cumprimento de medidas sanitárias de controle de infecção e outras práticas de precarização do cuidado e controle da saúde. Logo, derivam oportunidades para a atuação das equipes de enfermagem neste cenário, tal como de maneira preventiva, mediante a atuação nos territórios, principalmente, os periféricos, sob a lógica da rede na Atenção Primária à Saúde.
Diante disso, o perfil sociodemográfico de homens encarcerados e as deficiências no acesso à saúde nesse contexto evidenciam alguns determinantes sociais que acentuam suas vulnerabilidades. Essa formulação, que se apoia no conceito teórico-político da “interseccionalidade”, adotado neste estudo como um referencial de análise, o qual enfatiza os apagamentos e o (des)empoderamento dos sujeitos provocados por sistemas discriminatórios e geradores de desigualdades nas relações sociais, podendo ser útil para a produção de conhecimento e práticas em Enfermagem e Saúde, ainda escasso, o que justificara a realização deste estudo.
Com isso, vislumbra-se o aporte de conhecimento científico capaz de produzir implicações na prática em Enfermagem e Saúde sob a perspectiva da interseccionalidade no trabalho envolvendo as masculinidades, o encarceramento e a saúde sexual. Neste sentido, busca-se dialogar com uma agenda de prioridades que articulem a atenção à saúde de homens e a saúde prisional, em termos de políticas públicas de saúde focais e do exercício profissional em Enfermagem no Brasil e em perspectiva de saúde global.
Logo, este estudo foi guiado pela questão: como se entrecruzam as construções das masculinidades, junto ao contexto do encarceramento e a relação com as Infecções Sexualmente Transmissíveis vivenciadas por homens em situação prisional? O objetivo deste estudo é apreender o entrecruzamento interseccional das masculinidades e do encarceramento junto ao acometimento das Infecções Sexualmente Transmissíveis em homens em situação prisional.
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