IST/HIV/AIDS: Estratégias de Prevenção para Mulheres Que Fazem Sexo Com Mulheres

30 de outubro de 2024 por filipesoaresImprimir Imprimir

Identifica as estratégias de prevenção às Infecções Sexualmente Transmissíveis/HIV/Aids conhecidas por mulheres que fazem sexo com mulheres.


A escassez de diálogo acerca de educação sexual e métodos de prevenção específicos para Mulheres que fazem Sexo com Mulheres (MSM) cerceia este grupo o direito de exercício seguro da sua sexualidade. De forma geral, a educação sexual para jovens é limitada, tanto na esfera pública quanto na esfera privada. Isso porque, no imaginário coletivo, discutir sexualidade pode estimular a iniciação sexual precoce. Esse estigma restringe este grupo a orientações pouco efetivas, às vezes superficiais, com cunho repressivo e centralidade em práticas sexuais cisheteronormativas.

Foto: Telessaúde Sergipe.

As informações compartilhadas acerca da sexualidade precisam ter qualidade, pois auxiliam para o reconhecimento do corpo e suas potencialidades, os cuidados com a saúde, identificação de práticas sexuais seguras, entre outros. Esses elementos desempenham papel significativo no fortalecimento dos papéis sociais de gênero.

A adoção da nomenclatura MSM tem como propósito reconhecer a variedade de práticas sexuais entre mulheres, desvinculando-as orientação e identidade sexual específicas. Dessa forma, o termo foi utilizado para equiparar os achados aos estudos existentes, respeitando a luta de mulheres lésbicas e bissexuais por seus direitos sexuais e reprodutivos. Isso se justifica pelo fato de que a construção da identidade lésbica enfrentou historicamente invisibilidade dupla, tanto no seio do movimento Lésbico, Gay, Bissexual, Transexual e outras identidades (LGBT+), com predomínio masculino e ao machismo estrutural, quanto no movimento feminista, que priorizou demandas heterossexuais.
Com base nesse entendimento, compreende-se que a categoria MSM abrange uma variedade de identidades sexuais que incluem práticas afetivas e sexuais entre mulheres cis/trans, como lésbicas, bissexuais, pansexuais ou aquelas que não se identificam especificamente, reconhecendo, portanto, a fluidez da sexualidade.
Considerando a vulnerabilidade desse grupo observa-se que a opressão de gênero, a submissão feminina e o falocentrismo, contribuem para associação inadequada de que o prazer da mulher só é possível em práticas sexuais com homens cisgêneros. Tais aspectos influenciam na maneira como o relacionamento entre mulheres é visto socialmente, além de torná-las susceptíveis a diversos tipos de violência e Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST).
A prevenção de IST nas relações sexuais entre MSM é uma prática ainda pouco difundida, visto que desconhecem as possibilidades de transmissibilidade e desconsideram a contaminação no contato com fricção entre vulvas. Estudo transversal realizado no estado de São Paulo com 150 MSM e Mulheres que fazem Sexo com Mulheres e Homens (MSMH), no período de 2015 a 2017, identificou que 83% das participantes não foram informadas sobre IST por profissionais de saúde.
Além disso, as/os profissionais de saúde, incluindo enfermeiras na atenção primária, também desconhecem a susceptibilidade das MSM às infecções. Apesar de procurarem atendimento para exames preventivos, consultas de planejamento reprodutivo e perinatal, elas enfrentam a falta de acesso as informações pertinentes à prevenção de IST e aos direitos sexuais e reprodutivos relacionados às suas práticas sexuais. Esta lacuna de conhecimento pode ser atribuída à formação profissional limitada, bem como à ausência de discussões sobre o tema nos currículos dos cursos de graduação em enfermagem e saúde. Como resultado, tem-se a inabilidade teórica e prática sobre as estratégias de prevenção, ampliando a vulnerabilidade deste grupo as IST.
A cartilha produzida para auxiliar profissionais no atendimento à saúde da população LGBT no Sistema Único de Saúde (SUS) revela que as alterações ginecológicas mais comuns entre as mulheres lésbicas são vaginose bacteriana, candidíase, papilomavirus humano (HPV) e herpes, sendo que clamídia, gonorréia, doença inflamatória pélvica (DIP), vírus da imunodeficiência humana (HIV), hepatites B e C menos comuns nesse grupo, mas vale destacar a transmissibilidade sexual da maioria delas.
Investigação feita em São Paulo com 145 MSM, no período de março/2002 a abril/2003, identificou infecção pelo HIV recente em 2,6% das participantes. Corroborando com este achado, outro estudo relata a presença do vírus entre mulheres sorodiferentes, sugerindo a transmissão por meio de acessórios sexuais sem preservativo. Assim, observa-se que os estudos que destacam a infecção pelo HIV entre MSM e questiona a segurança nas práticas sexuais entre mulheres cisgêneros. As estratégias de prevenção precisam ser cuidadosamente planejadas pelos programas de prevenção de IST e AIDS, e as MSM devem ser consideradas como um grupo exposto.
Pesquisa produzida na Polônia com MSM e MSMH acerca do conhecimento sobre IST, observou que estas últimas possuíam maior conhecimento do que as primeiras. Tal fato guarda relação com a abordagem profissional aos grupos, as orientações específicas promovidas, a centralidade nas práticas entre mulheres e homens, além da sensação de segurança que MSM têm, levando ao estigma de que apenas homens podem transmitir IST. Previamente, investigação realizada com 29 MSM e MSMH Afro-Americanas em Birmingham (Alabama), haviam identificado que MSM afirmavam que MSMH podem transmitir infecções obtidas em práticas sexuais com homens para as mulheres, evitando assim se relacionarem com estas.
Não obstante, estudo realizado com 280 MSM das cidades de Kisumo, Mombasa e Nairobi (Quênia), observou que 33,9% das participantes já haviam sido diagnosticadas com pelo menos uma IST nos últimos três anos, além de relatarem ter tido relações sexuais com homens no mesmo período.
Diante do cenário apresentado, considerando ainda incipiente a produção científica sobre o tema, o presente estudo teve como finalidade identificar as estratégias de prevenção às IST/HIV/Aids conhecidas por MSM.
Compartilhar