Uma reflexão sobre diferentes aspectos que envolvem a enfermagem e a integralidade do cuidado, nas diferentes dimensões de seu fazer: educar, gerenciar e cuidar.
É para entender o cuidado e sua integralidade que não podemos pensar no ser humano de forma preconceituosa, individualista, objetiva, dicotômica, mas sim de forma integral, suplantando as dicotomias presentes no cotidiano, associando objetividade e subjetividade, ou seja, entendendo esse ser humano com suas emoções, sentimentos, paixões e sensações, como um ser subjetivo, que tem manifestações objetivas, como um ser por inteiro. E de que integralidade estamos falando?
Na Enfermagem, desde o advento das teorias de Enfermagem, na década de 1970, tem-se discutido o ser humano como um ser holístico. No entanto, nosso fazer permanece permeado por dicotomias, privilegiando o corpo biológico em detrimento do social, descartando-se o subjetivo. O fazer imediato é pautado por regras, normas,
prescrições generalizantes, ou seja, trata-se de um cuidado dicotomizado, em que parte da equipe pensa e parte realiza o que foi prescrito. Será esse nosso cuidado holístico e integral?
Para viabilizar a integralidade do cuidado, há que estabelecer mudanças no cotidiano das instituições de saúde, buscando a responsabilização no cuidado ao usuário, o real encontro entre quem cuida e quem é cuidado, quer dizer, estabelecendo um vínculo, valorizando o que Merhy chama de tecnologias leves, como as que envolvem
a relação com o outro, um cuidado que tenha como princípio as necessidades singulares dos sujeitos.
Essa integralidade suplantaria o modo como hoje se organiza a produção de atos de saúde, centrados em procedimentos, para atos centralizados nas necessidades dos sujeitos do cuidado, envolvendo para isso a articulação dos diferentes atores que produzem tal cuidado. A ideia é possibilitar não só a multidisciplinaridade, mas a
interdisciplinaridade, em que as expressões individuais e coletivas sejam possíveis, se reconheçam e se respeitem a multiplicidade e a diversidade entre os sujeitos. Há que se pensar que a integralidade do cuidado implica em movimento, em processo de interação, em idealizar o projeto de cuidado e responsabilizar-se pelo cuidado.
Nesse sentido, o atendimento integral requer a superação da estrutura organizacional hierarquizada e regionalizada da assistência de saúde. Exigindo o compromisso com o contínuo aprendizado e com a prática multiprofissional. Por isso, é preciso considerar a necessidade de reorganizar os serviços de saúde, e cabe à Enfermagem refletir acerca desse significado, tanto no cotidiano das instituições de saúde quanto das instituições formadoras.