Hora do Colinho – Além de Um Protocolo

18 de outubro de 2023 por filipesoaresImprimir Imprimir

A “Hora do Colinho” surgiu da necessidade de contemplar os recém-nascidos hospitalizados nascidos de mães com Covid que tiveram suas vidas ceifadas ou que se encontravam impossibilitadas de estar em contato direto com seus filhos por estarem internadas em setores críticos.


No ano de 2020 fomos surpreendidos por uma grande pandemia mundial. Nossas rotinas sofreram forte impacto e fomos desafiados a enfrentar uma nova realidade. A maternidade Frei Damião, onde atuo, tornou-se o centro de referência para recebimento de pacientes acometidos pela covid-19 na grande João Pessoa, no estado da Paraíba.

Hora do Colinho – Além de um protocolo
O novo cenário nos mostrava rotineiramente gestantes em estado grave da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) sendo submetidas ao parto cesariana precoce. Logo após o parto, as puérperas passavam pelo processo de intubação e continuação do tratamento na Unidade de Terapia Intensiva, enquanto o recém-nascido seguia o fluxo, dependendo do seu perfil clínico: de admissão na Unidade de Terapia Intensiva neonatal ou na Unidade de Cuidados Intermediários. Caso o bebê estivesse bem clinicamente, seguia na enfermaria com o responsável até o momento da alta hospitalar.
A partir desse novo perfil, foi observado que um número significativo de puérperas, admitidas na Unidade de Terapia Intensiva Adulto, apresentava o nível máximo de agravamento, elevando assim o aumento do tempo de internação e, em muitos casos, até mesmo o óbito materno – foram registrados 24 óbitos, incluindo de mães de bebês gemelares. Simultaneamente, tínhamos como resultado de observação o aumento do tempo de internação de seus bebês, caso estivessem internos na Unidade de Terapia Intensiva ou unidade de cuidados intermediários, além de mudança no perfil comportamental desses neonatos, como choro intenso, irritabilidade, quebra no ciclo do sono, entre outros.
Mediante a necessidade de mantermos as políticas de humanização aos neonatos e na busca por melhorar cada vez mais o ambiente de internação para promoção de qualidade assistencial prestada a estes bebês, nasceu um projeto inovador, sem necessidade de tecnologia, apenas de braços que mesmo paramentados, transbordavam afeto terapêutico com repercussão clínica. Este projeto foi chamado de “A Hora do Colinho”.
A iniciativa surgiu em meio às grandes dificuldades na sociedade como um todo: restrição de abraços, toques, distanciamento social, além da ausência de vacinas. Sempre é desafiador a implementação de um projeto novo e em meio ao desconhecido tudo se torna ainda mais difícil. No entanto, devido aos riscos, precisamos mostrar e provar cientificamente que os benefícios eram maiores que as ameaças.
Rapidamente, foi necessário transformá-lo em um Protocolo Operacional Padrão (POP), para realizá-lo de forma segura nos bebês que seriam contemplados. Diante de alguns percalços encontrados durante o início do projeto, logo foi necessário solicitar um parecer sobre a legalidade do enfermeiro em prescrever e realizar o colinho terapêutico.
O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) emitiu parecer de número 003/2021 logo em seguida à aprovação do POP, fortalecendo o enfermeiro como protagonista do cuidado ao assumir o seu papel com total autonomia, além de divulgar e implementar tal protocolo. A partir de então, com respaldo legal, o POP foi amplamente divulgado pelos Conselhos Regionais, virando notícias nas mídias local e nacional, sendo rapidamente transformado em Projetos de Leis estaduais e municipais, chegando também ao Congresso Nacional.

Hora do colinho

O Protocolo também foi transformado em um relato de experiência “Hora do colinho: colo como terapia humanizada para recém-nascidos de unidade de Cuidados Intermediários Neonatal“, pautado nos indicadores extraídos do estudo observacional dos neonatos submetidos a técnica terapêutica. Neste estudo, ficou mais do que comprovado os benefícios, além da ausência de riscos aos neonatos.
Portanto, diante de tamanha repercussão, nada melhor do que transformar “um programa que leva acolhimento, cuidado, amparado pela ciência, baixíssimo custo e majestosamente completo” – como bem descreveu em sua fala o pediatra Dr. Bruno Leandro de Souza-, em um livro que narra o desafio de idealizar um projeto inovador e implementá-lo a nível nacional em meio a uma pandemia. Além de ter por objetivo a transformação de toda essa experiência em uma ferramenta de consulta para os profissionais que atuam na assistência neonatal, respaldando-os em suas prescrições e trabalhos científicos, mas também para a área acadêmica, disponibilizando conteúdo majestoso para que eles, em suas vidas profissionais, sejam multiplicadores.
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