Atuação da Enfermagem na identificação e condução das reações adversas.
A Hemovigilância envolve um conjunto de procedimentos de vigilância cobrindo toda a cadeia transfusional. Destina-se a coletar e avaliar informações sobre efeitos inesperados ou indesejáveis resultantes do uso terapêutico de produtos sanguíneos com intuito de prevenir sua ocorrência ou recorrência. Mas até recentemente, em especial no Brasil, os cuidados eram voltados exclusivamente para os efeitos adversos às transfusões de sangue, ou seja, o foco era no paciente. Em 2015 foi publicado o Marco Conceitual e Operacional em Hemovigilância onde se encontram os capítulos específicos ao doador de sangue com a classificação das reações quanto ao tempo de ocorrência, quanto à gravidade, quanto à correlação com a doação e quanto ao tipo de doação.
Este projeto foi delineado diante da necessidade de diagnosticar os registros de reações adversas à doação de sangue no Hemocentro de Botucatu nos últimos cinco anos, também desenvolver e implantar manual para atendimento ao doador de sangue, efetuar treinamento específico de equipe, desenvolver e implantar registro de reações adversas à doação de sangue tardias, utilizando a home page do Hospital das Clínicas/Hemocentro e analisar prospectivamente o registro das reações adversas à doação de sangue. No período analisado foram coletadas 71.118 bolsas de sangue, das quais, 69.287 foram por meio de doação standard e outras 2.388 pelo método de aférese (4%). Durante o período observa-se uma discreta tendência a aumento do número de doações de sangue. Em 2014 foram 13.873 doações e, em 2018, 14.205, portanto um aumento de 2,40%. Nos anos 2014 e 2016 a classificação remete o Hemocentro de Botucatu para uma posição inferior dentre o range de 5 a 9,9 doadores/1000 habitantes. Já para os anos 2015, 2017 e 2018 este número é ligeiramente maior que 10, como a média brasileira indicada. De 2014 a 2018 foram registradas 1.063 reações adversas ainda na sala de coleta, ou seja, reações imediatas e não foram identificados registros ou queixas de reações tardias. No treinamento, a análise de desempenho dos participantes em ambos os testes foi a média de acertos no pós-teste de 13,43 contra 9,37 e a mediana de 15,5 versus 8,5 onde p<0,0001 evidenciando que o rendimento dos participantes foi estatisticamente significante no pós-teste. De 22 de julho de 2020 até 30 de novembro de 2020 foram registrados 80 acessos na home page. Destes acessos, 20 preencheram o formulário de reação adversa tardia dos quais, 15 estão documentados com fotos e outros cinco sem fotos.
A análise retrospectiva das doações de sangue realizadas de 2014 a 2018 aponta oportunidade de melhoria no serviço de Hemovigilância no que se refere à assistência de enfermagem e aos registros de reações adversas no Hemocentro de Botucatu.
A análise prospectiva do registro das reações adversas à doação de sangue de dezembro de 2019 a 30 de novembro de 2020, após treinamento, identificou aumento do número de registros apontando para subnotificação em período retrospectivo. A taxa de RADS imediatas no Hemocentro de Botucatu era de 20,13/1000 doadores e foi para 21,68/1000 doadores após o treinamento. Foram registrados 84,96% das RADS imediatas no ambiente da coleta interna. A intensidade da RADS classificada em leve, moderada e grave distribuiu-se em 83,15%, 16,55% e 0,30%, respectivamente.