Hanseníase na Região Norte do Brasil: Um Olhar Sobre Raça, Cor e Desigualdades em Saúde.
Você sabia que a hanseníase ainda é um desafio de saúde pública no Brasil, especialmente em algumas regiões do país? Um estudo recente analisou como a cor da pele e o pertencimento étnico influenciam a ocorrência de novos casos da doença na região Norte – justamente a área com maior número de municípios prioritários para ações de controle dentro do Programa Brasil Saudável.

Pesquisadores realizaram uma análise temporal, ou seja, observaram os dados ao longo dos anos, para entender as tendências nos novos casos de hanseníase entre diferentes grupos raciais e étnicos. O estudo foi conduzido com base em informações do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e utilizou a ferramenta Joinpoint® para analisar a evolução dos indicadores.
Entre os anos de 2004 e 2024, os dados mostram um cenário preocupante:
Pessoas indígenas: apresentaram uma tendência crescente de novos casos ao longo de todo o período estudado.
Pessoas pretas: a partir de 2020, também houve aumento significativo na proporção de casos.
Pessoas brancas: diferentemente dos outros grupos, houve uma tendência de queda no número de novos casos.
Quando olhamos para os estados da região Norte, a variação entre eles existe, mas o padrão se mantém: os grupos mais afetados são os pretos, pardos e indígenas, evidenciando desigualdades importantes no acesso à prevenção, diagnóstico e tratamento da doença.
A conclusão do estudo é clara: as ações atuais de prevenção e controle da hanseníase na Atenção Primária à Saúde, especialmente na região amazônica, não têm sido suficientes para combater as desigualdades sociais relacionadas à cor da pele e ao pertencimento étnico.
Diante desse cenário, o enfermeiro tem um papel fundamental. Ele pode – e deve – ampliar o monitoramento da hanseníase nos municípios prioritários, considerando os determinantes sociais de saúde mais relevantes de cada local. Além disso, é essencial que haja um esforço ativo para identificar e rastrear as populações em maior risco, garantindo que ninguém fique de fora da atenção básica à saúde.
A hanseníase é uma doença evitável e tratável, mas as desigualdades sociais e raciais ainda impedem que a prevenção e o cuidado cheguem a todos de forma igualitária. Reconhecer essas desigualdades é o primeiro passo para mudar esse cenário.
Se queremos um Brasil verdadeiramente saudável, é preciso enfrentar de frente as desigualdades que adoecem – e matam – de forma desigual.