Filosofia e Processo de Enfermagem: Uma Reflexão das Bases Teórico Filosóficas na Prática Clínica de Enfermagem

20 de novembro de 2023 por filipesoaresImprimir Imprimir

Reflete sobre a aproximação e influência de pressupostos filosóficos na aplicação do processo de Enfermagem na prática clínica.


O processo de enfermagem (PE) pode ser definido como um instrumento metodológico utilizado para organizar o trabalho do enfermeiro, fornecendo-lhe as condições necessárias para que aconteça com acurácia. Ao longo do tempo, esta metodologia foi se adequando à evolução das gerações do processo de enfermagem no Brasil.

Diálogos Entre Processos Formativos e a Prática em Enfermagem

Foto: Divulgação

A primeira geração, que compreendeu o período de 1950 a 1970, destacou-se pela ênfase na identificação e resolução dos problemas dos pacientes. Nesse tempo, o processo de enfermagem apresentava quatro etapas: a coleta de dados, o planejamento, a implementação e a avaliação.
A primeira geração foi marcada pela rotinização da identificação e solução dos problemas; e o foco do cuidado estava nas condições fisiopatológicas dos indivíduos. Em meados de 1950, a teorista de enfermagem Faye Abdellah criou um sistema de classificação, a fim de identificar 21 problemas de enfermagem dos pacientes. Essa classificação foi introduzida pelas escolas de enfermagem em seus currículos, com o intuito de capacitar os estudantes para a identificação das respostas dos indivíduos à saúde e à doença e que demandassem intervenções de enfermagem. As contribuições de Abdellah foram reconhecidas como a primeira classificação relevante para a prática de enfermagem nos Estados Unidos.
A segunda geração do processo de enfermagem foi instituída no período de 1970 a 1990, quando o PE passou a incluir a etapa de diagnósticos de enfermagem (DE) em sua configuração, de modo que fosse aplicado em cinco fases. Assim, este importante instrumento da prática do enfermeiro avança de uma visão linear e lógica, com foco na resolução de problemas, para um processo dinâmico e multifacetado, exigindo raciocínio e pensamento crítico no gerenciamento dos dados e informações, com foco na tomada de decisões e nas intervenções de enfermagem.
Há de se destacar que, no período de 1990 a 2010, os enfermeiros vivenciaram a terceira geração do processo de enfermagem em que se volta para a identificação e testagem na prática clínica dos resultados sensíveis às intervenções de enfermagem.

Processo de Enfermagem no Brasil

No Brasil, o PE foi introduzido com a teorista de enfermagem Wanda de Aguiar Horta, em 1970, que desenvolveu a Teoria das Necessidades Humanas Básicas, com origem paradigmática em Maslow, e na denominação de necessidades, de João Mohana, as psicobiológicas, psicossociais e psicoespirituais. Horta elencou seis fases do processo de enfermagem, são elas: histórico, diagnóstico de enfermagem, plano assistencial, plano de cuidados, evolução e prognóstico. Salientando-se a importância do desenvolvimento de habilidades denominadas instrumentos básicos, para execução do PE.
Atualmente se vivencia a quarta geração do PE, compreendendo o período de 2010 até os dias atuais. Nessa geração, a ênfase está no PE avançado, com foco no pensamento crítico holístico, no raciocínio diagnóstico e clínico, e na aplicação das linguagens padronizadas da prática de enfermagem, incluindo as classificações de termos de enfermagem, tais como: taxonomia II da North American Nursing Diagnosis Association International (NANDA-I), Classificação Internacional para Prática de Enfermagem (CIPE), Nursing Interventions Classifications (NIC) e a Nusing Outcomes Classification (NOC).
Em 1978, nos Estados Unidos, Barbara Carper publicou um artigo oriundo da sua tese de doutorado, com grande repercussão no campo da enfermagem em nível mundial, pois apresentou os quatro padrões de conhecimento de enfermagem, são eles: o empírico, o estético, o ético e o pessoal.
O padrão de conhecimento empírico ou a ciência da enfermagem, sistematicamente organizado em leis gerais e teorias, tem o propósito de descrever, explicar e predizer fenômenos de interesse da Enfermagem. É factual, descritivo, discursivamente formulado e publicamente verificável. Seu objetivo é desenvolver um conhecimento abstrato e explicações teóricas para a ciência de enfermagem. O conhecimento estético diz respeito à arte da enfermagem, que é expressiva, subjetiva e se torna visível na ação de cuidar. Porém, nem toda ação tem uma qualidade estética, pois, para que isto ocorra, deve haver uma unidade de fins e meios.
O padrão ético envolve mais do que conhecer o código de ética profissional. No cotidiano das práticas de enfermagem, os enfermeiros devem estabelecer metas e intervenções que sejam adequados aos pacientes, e isso exige uma escolha, decidir o que é correto à situação. O padrão pessoal é considerado mais complexo para compreender e ensinar, relaciona-se com o conhecimento, o encontro e o entendimento do self individual, do que é concreto. É o conhecimento de si que permite estabelecer um relacionamento autêntico de reciprocidade com o outro. A aplicação do Self implica em uma aproximação do cliente com o sujeito.
Os padrões de conhecimento, assim como os metaparadigmas, que são os quatro conceitos principais utilizados na enfermagem e que fundamentam a prática, incluem: a pessoa, o ambiente, a saúde e a enfermagem. Ambos os grupos de conhecimentos da ciência de enfermagem devem ser conhecidos e aplicados na prática pelos enfermeiros.
Compreende-se que conhecer os pressupostos filosóficos, as teorias de enfermagem, bem como padrões de conhecimentos e metaparadigmas constitui a base para uma prática de enfermagem competente e de qualidade. Não é possível ser e fazer enfermagem sem o conhecimento teórico-filosófico que alicerça a ciência de enfermagem. Frente a isso, este ensaio reflexivo se propõe em responder à seguinte questão de pesquisa: qual a influência e as contribuições dos pressupostos filosóficos na aplicação do processo de enfermagem na prática clínica. O objetivo foi refletir sobre a aproximação e influência de pressupostos filosóficos na aplicação do processo de enfermagem na prática clínica.
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