Fatores Associados à Inadequação do Início do Pré-natal

22 de março de 2022 por filipesoaresImprimir Imprimir

Analisa os fatores associados à inadequação do início do pré-natal de acordo com o Índice de Adequação da Utilização do Cuidado Pré-natal.


Para a análise da adequação ou não do pré-natal (PN), consideram-se diversos critérios, tanto de aspectos quantitativos como qualitativos (ex. início, número de consultas, exames laboratoriais básicos, vacinação, procedimentos obstétricos, etc.). Existe na literatura atual uma preocupação em utilizar indicadores mais abrangentes, entretanto não há uniformidade entre esses indicadores e não existe consenso sobre a quantidade de cuidados que uma mulher deve receber e sobre qual conteúdo se faz estritamente essencial.

Fatores Associados à Inadequação do Início do Pré-natal

Fatores Associados à Inadequação do Início do Pré-natal. Foto: Divulgação.

Alguns critérios de julgamento são muito conhecidos e utilizados, como o Programa de Humanização no PréNatal e Nascimento (PHPN), que preconizou os parâmetros mínimos para uma adequada assistência pré-natal, e o Índice de Adequação da Utilização do Cuidado Pré-natal (Adequacy of Prenatal Care Utilization – APNCU), utilizado no presente estudo. O APNCU caracteriza os cuidados no pré-natal em duas categorias distintas e independentes: a) Adequação do início do cuidado pré-natal ou mês em queo cuidado pré-natal foi iniciado; b) Adequação dos cuidados recebidos ou porcentagem de consultas recebidas ajustadas para o mês de início da assistência pré-natal e para a idade gestacional da ocorrência do parto.

Inadequação do Início do Pré-natal

O presente estudo terá como foco a adequação/inadequação do início do cuidado pré-natal. Sabe-se que o início inadequado do pré-natal prejudica o acompanhamento com qualidade da gestação, sendo um fator determinante para a diminuição no número de consultas e a não realização dos exames complementares no período adequado, resultando em efeitos materno-fetais negativos, visto que o pré-natal é um prognóstico da gestação.

O acompanhamento mensal inicial é essencial para prevenção e proteção de complicações na assistência obstétrica. O PN, se realizado corretamente, possibilita a identificação precoce e o manuseio correto dos fatores de risco e patologias que interferem na saúde do binômio mãe-filho.

Além de anamnese e exame físico, o Ministério da Saúde (MS) alerta quanto à realização dos exames complementares como uma condição básica para a assistência PN nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs). Estas devem garantir a realização dos principais exames de rotina para as gestantes, como o teste rápido de gravidez, hemograma, teste de glicemia, urina tipo I, tipagem sanguínea, teste de triagem e sorologia para sífilis, teste rápido e sorologia para Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), entre outros, como também a imunização através do esquema vacinal.

Logo, normalmente, as mulheres que recebem cuidados de PN desde o primeiro trimestre possuem melhores resultados gestacionais do que aquelas que iniciam o PN tardiamente. O menor número de consultas no PN se associa ao acesso precoce dessas crianças ao serviço de saúde de emergência nos primeiros três meses de vida, demonstrando o PN como um fator relevante para prevenir adversidades na gestação e no primeiro ano de vida da criança.

Pré-natal no Brasil

Cerca de 26% das gestantes no Brasil iniciam o PN após o 1º trimestre de gestação. No que diz respeito à abrangência do PN no Brasil, há evidências de uma boa cobertura na atenção PN com equivalência entre as regiões brasileiras. Porém, no que tange ao início do PN e consequentemente ao número de consultas e à realização de procedimentos básicos, preconizados pelo MS, não são equânimes. Um estudo ressalta que apenas 20% de todo o território da região amazônica possui cobertura de prestação de serviços se comparada às demais regiões do país. Apresenta assim graves problemas relacionados à assistência, principalmente no que diz respeito a gestantes e crianças.

O MS afirma que o primeiro passo para o PN de qualidade na atenção básica é iniciá-lo até a 12ª semana de gestação (captação precoce). Porém, estudos apontam que há divergências no que diz respeito à classificação do período considerado de início tardio ao pré-natal. Alguns afirmam que o início tardio se dá após 12 semanas, outros se utilizam do critério “terceiro mês de gestação”; também há critério de 16 semanas e outras definições. Essas diferenças de classificação e/ou nomenclatura (ora se denomina como tardio, ora como inadequado) influenciam diretamente uma unicidade de dados relacionados ao período de início do PN e correlação entre os resultados que abrangem uma mesma temática.

Apesar de cobertura satisfatória de acesso em grande parte do Brasil, ainda há um alto índice de morte materno-infantil por causas que poderiam ser evitadas, caso o acesso inicial não se desse de forma inadequada, a fim de tratar os agravos desde o início da gestação. Portanto, considerando esse contexto, o presente estudo tem como objetivo analisar os fatores associados à inadequação do início do pré-natal segundo gestantes atendidas em uma Unidade Básica de Saúde na Amazônia.

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