Experiências Religiosas/Espirituais, Qualidade de Vida e Satisfação Com a Vida de Octogenários Hospitalizados

19 de novembro de 2021 por filipesoaresImprimir Imprimir

Avalia índices de qualidade de vida e de satisfação com a vida e verifica se a frequência de experiências religiosas e espirituais se associa com a melhora de qualidade de vida em octogenários hospitalizados.


A divisão de população da ONU divulgou, em 2019, as novas projeções populacionais para todos os países e para o mundo. No mundo, em termos relativos, a população de 80 anos e mais representava somente 0,6% do total de habitantes em 1950, passando para 1,9% em 2020 e deve atingir 8,1% em 2100 (um aumento de 14,4 vezes no percentual de 1950 para 2100). Em termos relativos, a população idosa brasileira de 80 anos e mais representava somente 0,3% do total de habitantes de 1950, passou para 2% em 2020 e deve atingir 15,6% em 2100 (um aumento de 55,2 vezes no percentual de 1950 para 2100).

Experiências Religiosas/Espirituais, Qualidade de Vida e Satisfação Com a Vida de Octogenários Hospitalizados

Experiências Religiosas/Espirituais, Qualidade de Vida e Satisfação Com a Vida de Octogenários Hospitalizados. Foto: Divulgação

A partir do acelerado envelhecimento populacional, ocorre a transição epidemiológica, modificando o perfil de morbimortalidade. No Brasil, encontra-se um perfil de tripla carga de doenças, mantendo a ocorrência de algumas doenças infectocontagiosas, juntamente com um aumento da morbimortalidade por Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) e um expressivo aumento das causas externas. Os idosos tendem a consumir mais os serviços de saúde, apresentando maiores taxas de hospitalizações, quando comparada com outras faixas etárias.

Octogenários hospitalizados

A hospitalização, para o idoso, é um evento estressante que pode levar à perda de capacidade funcional, afastamento da família e amigos, e as experiências religiosas e espirituais vivenciadas no período de internação podem ser um recurso de enfrentamento positivo para as dificuldades.

A partir do aumento do número de idosos no Brasil, cresce o interesse por pesquisas relacionadas à qualidade de vida (QV) e à longevidade. A QV do idoso está relacionada com a autoestima, bem-estar pessoal e espiritual. Além disto, está associada com capacidade funcional, nível socioeconômico, estado emocional, interação social, atividade intelectual, autocuidado, suporte familiar, o próprio estado de saúde, estilo de vida, satisfação com atividades diárias e espiritualidade.

Existem diversos conceitos de QV, porém o conceito mais utilizado é o da Organização Mundial da Saúde (OMS): “é a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”.

Além disso, é importante distinguir religiosidade e espiritualidade, uma vez que esses conceitos têm íntima ligação e, por vezes, são tidos como sinônimos: “a espiritualidade se constitui de um sentimento íntimo existencial, uma busca pelo sentido de viver e estar no mundo e que não necessariamente vai estar ligado à crença em algo maior, como um Deus”. (BÜSSING e col., 2015, p.1525). Enquanto a religiosidade, pode ser compreendida como um “conjunto de crenças e práticas pertencentes a uma doutrina, que são compartilhadas e seguidas por um grupo de pessoas, através de cultos ou rituais que envolvem necessariamente a noção de fé”.

Qualidade de vida

Nos últimos anos, aumentou o interesse por encontrar associação entre questões religiosas e espirituais e melhor QV em pessoas com doenças físicas e mentais e o possível efeito salutogênico esperado sobre o bem-estar daqueles que vivem neste cenário. Indivíduos com doenças crônicas ou doenças que ameaçam a vida, muitas vezes relatam necessidades espirituais não atendidas e que, na maioria dos casos, não são abordadas e nem reconhecidas pelos profissionais de saúde. O atendimento às necessidades espirituais é um aspecto importante a ser considerado na atenção à saúde e, cada vez mais, os profissionais precisam buscar competência para este cuidado específico. A religiosidade e a espiritualidade são importantes recursos para o enfrentamento de doenças, sendo ainda necessário aprofundar o conhecimento sobre crenças religiosas e espirituais, visto que podem influenciar no tratamento e na recuperação de condições crônicas de saúde.

O tema satisfação com a vida dos octogenários tem sido discutido e estudado, sendo, especialmente, importante para os profissionais que trabalham com essa população, cuja atividade tem o propósito de melhorar a QV na velhice, porém o conceito ainda é considerado uma dimensão subjetiva da QV, ao lado de felicidade e bem-estar.

A satisfação com a vida (SV) se relaciona à saúde física, às necessidades de satisfação social e psicológica. Também está associada ao gênero, idade, nível socioeconômico e educacional, entre outros. Além disso, é um forte indicador de QV e pode orientar políticas de saúde na velhice. O conhecimento mais aprofundado da relação entre SV, religiosidade e espiritualidade possibilitará o desenvolvimento de métodos para intervir na população idosa, visando ao envelhecimento bem-sucedido.

O idoso, geralmente, é portador de DCNT. Apresenta limitações físicas, alterações emocionais e psicossociais em consequência dessas doenças, que, em diferentes graus, podem modificar sua percepção de SV e QV.

Novos desafios

Em decorrência do aumento da expectativa de vida dos brasileiros e, consequentemente, do envelhecimento da população, o sistema de saúde enfrenta novos desafios e devem estar estruturados para atender à demanda crescente desse grupo populacional, pois, à medida que as doenças próprias dessa faixa etária ganham maior expressão no conjunto da sociedade, ocorre maior procura por serviços de saúde, gerando gastos elevados, sem necessariamente alcançar melhoria da QV e recuperação da saúde.

Os profissionais de saúde, cada vez mais, estão prestando cuidados a doentes com maior gravidade, idade mais avançada, com múltiplas comorbidades e de várias origens culturais. Portanto, a realização deste estudo se justifica pelo fato de que o envelhecimento da sociedade exige dos profissionais de saúde uma mudança na percepção do idoso, ou seja, de suas prioridades de cuidado. O foco do cuidado no ambiente hospitalar precisa visar tanto os aspectos clínicos como os de experiência espiritual, SV e QV, pois a variedade de agravos à saúde observada em idosos exige o planejamento e a estruturação de uma atenção integral a essa população. Para se alcançar o cuidado integral ao idoso hospitalizado, a verificação se as experiências religiosas e espirituais se associam à QV e à SV em octogenários hospitalizado se torna necessária, uma vez que pode revelar aos profissionais de saúde necessidades espirituais por parte desses idosos que, se atendidas, podem favorecer a SV e a QV. Para o planejamento dos cuidados ao idoso, a utilização de um instrumento de avaliação da experiência religiosa se torna importante, posto que ainda existe uma lacuna de conhecimento sobre a avaliação da frequência de experiência religiosa em idosos hospitalizados.

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