Analisa o ensino profissional técnico de Enfermagem e a articulação com as demandas do SUS.
Nesta pesquisa toma-se como objeto o ensino profissional técnico de enfermagem no contexto do Sistema Único de Saúde. Pressupõe-se que tal formação ancora-se na reflexão e na problematização crítica sobre a realidade, para a compreensão de contradições da prática profissional.
A pesquisa teve como objetivo analisar o ensino profissional técnico de enfermagem e a articulação com as demandas do SUS. Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa orientada pelo referencial da dialética. As participantes da pesquisa foram egressas e docentes do Curso Técnico de Enfermagem da Escola de Saúde Pública de Minas Gerais de turmas concluídas entre os anos de 2012 e 2015.
Para levantamento dos dados, foram realizadas entrevistas com roteiro semiestruturado cuja interpretação se sustentou nas categorias da Análise de Discurso Crítica. Os relatos demonstraram discursos que se constroem a partir da representação do SUS, da oferta e desenvolvimento do Curso Técnico de Enfermagem, e dos efeitos e repercussões do curso no e para o SUS. Entre regularidades e contradições, o SUS é representado como sistema ideológico, dinâmico e em construção, que determina processos de trabalho dos profissionais técnicos de enfermagem. Dialeticamente, o mesmo sistema que apresenta profissionais técnicos de enfermagem atuando sem a devida qualificação, configura-se no principal objeto/tema para a formação dos técnicos de enfermagem. A oferta e desenvolvimento do curso técnico de enfermagem é marcada por discursos que retratam a integração ensino-serviço, reconhecendo que a experiência dos trabalhadores é fundamental para o processo ensino-aprendizagem na formação que atenda ao SUS. A oferta do curso técnico no contexto do SUS se apresenta de forma complexa com discursos produzidos a partir de práticas discursivas historicamente estruturadas no campo da Enfermagem. O desenvolvimento do curso incorpora diretrizes da Política Nacional de Educação Permanente PNEPS específicas para a formação técnica de nível médio, como a capacitação pedagógica dos docentes e a integração ensino-serviço. Contudo, revelam-se contradições no que se refere à autonomia docente e à filiação do processo educativo a concepções tecnicistas e pragmáticas, instrumentalizando docentes e alunos para adaptação aos processos de trabalho.
Conclui-se que o curso técnico reproduz paradigmas hegemônicos da educação tradicional, da formação profissional e da profissão de Enfermagem. Embora seja evidenciada a influência tecnicista, foi possível analisar os efeitos e repercussões da formação no e para o SUS relacionados, na dimensão singular, às mudanças individuais na postura profissional das egressas e, na dimensão estrutural, à assimilação do discurso político da saúde. A síntese, ainda que provisória, indica que o ensino técnico de enfermagem atende às necessidades do SUS.