Enfermagem de Práticas Avançadas no Atendimento Pré-hospitalar: Desafios e Estratégias de Implementação

23 de maio de 2024 por filipesoaresImprimir Imprimir

Mapea e analisa os potenciais desafios e estratégias na implementação da Enfermagem de Práticas Avançadas, no modelo de atendimento pré-hospitalar móvel brasileiro, a partir da experiência de outros países.


Atualmente, mais de 70 países adotam novos modelos de prestação de cuidados e impulsionam uma agenda de reformas para ampliar o acesso a saúde e reduzir custos. Essa pauta estimula a expansão do papel de enfermeiros, ao reconhecer nesses profissionais, competências avançadas, que auxiliam no enfrentamento de desafios decorrentes da ampliação da população assistida, do envelhecimento populacional e do crescimento exponencial das doenças crônicas, principalmente em municípios menores, áreas rurais e comunidades distantes de grandes centros, onde há escassez ou dificuldade de fixação de médicos.

A Compreensão da Prática Avançada de Enfermagem Como Um Passo à Sua Implementação no Brasil

Foto: Divulgação

O Conselho Internacional de Enfermeiros (ICN) refere-se a Enfermagem de Práticas Avançadas (EPA) como ações e intervenções aprimoradas e expandidas, fornecidas por enfermeiros, que por sua capacidade avançada, ofertam serviços de saúde direto a indivíduos, família e comunidade, influenciando os resultados de saúde. O termo engloba uma variedade de práticas assistenciais para enfermeiros em diferentes áreas dos sistemas de saúde. O enfermeiro de práticas avançadas, é definido como aquele que adquiriu, por meio de educação adicional, uma base de conhecimento especializado, habilidades para tomada de decisão em situações complexas e competências clínicas para prática expandida, cujas características são moldadas pelo contexto ou país em que estão credenciados para exercer a profissão.

Enfermagem de Práticas Avançadas

A implementação da EPA na atenção primária é apoiada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como estratégia global para qualificação e ampliação do acesso ao cuidado. Entretanto, ela é flexível às variações e necessidades dos sistemas de saúde e pode alcançar outras áreas, estimulando a combinação mais equilibrada de competências e atribuições dos profissionais de saúde, focada nas necessidades do paciente e dos sistemas de saúde. Bons resultados de pesquisa já começam a aparecer.
A área de urgência é uma das portas de entrada dos sistemas de saúde e uma direção possível da EPA. Nesse campo, está o atendimento pré-hospitalar móvel (APH), que por sua complexidade e especificidade, apresenta experiências de expansão da atuação do enfermeiro no campo assistencial ou de gestão. Estados Unidos, Portugal, Suécia, Holanda, Espanha, e Índia já incorporaram e/ou expandiram o papel do enfermeiro em suas equipes pré-hospitalares e descrevem bons resultados relacionados a acesso e distribuição de cuidados.
No Brasil, o modelo de APH público é representado pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU 192), implementado em 2003 para uma resposta pré-hospitalar em duas camadas, o Suporte Básico de Vida (SBV) e o Suporte Avançado de Vida (SAV). Em 2019, o serviço alcançava 3.750 (67,3%) municípios do país com 85,0% de cobertura populacional. Estavam disponíveis 191 centrais de regulação das urgências (CRU) no controle de 3.648 recursos móveis habilitados, sendo 2.742 (75,2%) ambulâncias de SBV terrestre e 614 (16,8%) de SAV dentre outras unidades. A ambulância de SBV é constituída por um técnico ou auxiliar de enfermagem e um condutor e a ambulância de SAV possui um médico, um enfermeiro e um condutor.
Nessa configuração, o SAV foi estruturado para produzir resposta dupla nos casos graves, quando é enviado para apoiar o SBV. Entretanto, considerando a maior capilaridade do SBV e a extensão do território brasileiro, o SBV frequentemente se depara com pacientes complexos e graves, ou de risco desconhecido, cujas exigências de cuidado extrapolam as prerrogativas dos profissionais e sua capacidade resolutiva, colocando o cidadão em risco assistencial.
Na busca por equilíbrio na composição da força de trabalho e para compatibilizar as necessidades do paciente à capacidade do sistema de prover cuidado, desde 2004, enfermeiros já atuam como 3º profissional no SBV, formando equipe com o técnico de enfermagem, realizando procedimentos e administrando medicamentos sob protocolos e regulação médica. Tais experiências de incorporação do Enfermeiro no APH são vistas nos estados de São Paulo, Ceará, Espírito Santo, Sergipe e Rio de Janeiro e se configuram como estratégia assistencial, envolvendo práticas expandidas realizadas sob protocolos.
Para além dessa expansão do papel assistencial, enfermeiros já atuam na CRU, em papéis gerenciais ampliados, realizando ações ligadas ao controle e supervisão das equipes e, também, em ações complementares à regulação. Essas novas atribuições, caracterizam uma inovação incremental no modelo brasileiro de APH, derivada da ampliação do papel do enfermeiro na busca de acesso oportuno ao cuidado de urgência.
O papel ampliado do Enfermeiro no APH brasileiro, é um importante avanço no modelo de atenção e se caracteriza pela busca por maior responsabilidade e autonomia na prática profissional. Na vanguarda da experiência, o Brasil pode vivenciar desafios de implementação da EPA similares aos de outros países, do qual emergem as perguntas de pesquisa do presente estudo: Quais são os desafios a serem superados na implementação da EPA no APH do Brasil? Quais são as estratégias possíveis para seu enfrentamento?
O presente estudo tem como objetivo mapear e analisar os potenciais desafios e estratégias à implementação da Enfermagem de Práticas Avançadas no modelo de APH móvel brasileiro, a partir da experiência de outros países.
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