No Brasil, foram notificados 47.292 casos de acidentes de trabalho com exposição a material biológico em 2014, mas esse número é provavelmente muito maior. Nesse tipo de acidente, deve-se avaliar o risco de transmissão do vírus da imunodeficiência humana (HIV) e a necessidade de profilaxia pós-exposição (PEP). Para tanto, quatro aspectos devem ser considerados: o tipo de material biológico envolvido no acidente, o tipo de exposição, o tempo transcorrido entre o acidente e o atendimento inicial, e a condição sorológica da pessoa exposta.
A escolha das drogas que compõem o esquema preconizado pelo Ministério da Saúde (MS) foi baseada em estudos de terapia antirretroviral, de profilaxia pré-exposição e pós-exposição, considerando-se principalmente o risco de efeitos adversos e de descontinuação do esquema, além da posologia, dos custos e da disponibilidade dos agentes antirretrovirais no Sistema Único de Saúde. Ainda que essas drogas, pelo protocolo de 2015, sejam menos tóxicas e melhor toleradas, todos os agentes antirretrovirais podem apresentar efeitos adversos e interações medicamentosas. Os eventos adversos mais frequentes são geralmente leves e transitórios, embora haja relatos de eventos graves associados às drogas desse esquema.
O presente artigo teve por objetivos, a partir do relato de um caso de toxicidade relacionada à profilaxia após exposição ocupacional de risco à infecção pelo HIV, revisar os efeitos adversos mais comuns e também os mais graves associados às drogas dos esquemas de PEP recomendados pelo MS, e discutir a conduta do médico do trabalho diante do surgimento dessas complicações. Este estudo de caso foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva e autorizado pela paciente envolvida por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.